O novo rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdul-Aziz al-Saud, 79 (Erin A. Kirk-Cuomo/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2015 às 15h56.
Riad - A Arábia Saudita, uma potência petroleira ultraconservadora sunita, continuará, durante o reinado de Salman, com sua política marcada pela firmeza em relação ao jihadismo e a abertura a seus vizinhos, numa região em metamorfose.
O novo rei assegurou em suas primeiras declarações que não haverá mudanças na política saudita depois do falecimento do rei Abdullah.
"Não creio que tenham mudanças importantes durante o reinado do príncipe Salman e do príncipe herdeiro Mugrin", declarou à AFP Frédéric Wehrey, especialista em Golfo do instituto Carnegie Endowment for International Peace.
"Os Al Saud compartilham da mesma visão de mundo, mas podem discordar ligeiramente em alguns assuntos de estratégia e tática", completou o analista, que prevê uma continuidade na cooperação com os Estados Unidos sobre a luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), presente na Síria e no Iraque, países que fazem fronteira com a Arábia Saudita.
"As linhas gerais das relações americanos-sauditas, sobretudo contra o EI, deveria se manter bastante sólida", disse em alusão à participação de Riade na coalizão internacional antijihadista liderada pelos Estados Unidos.
Para o analista kuwaitiano Ayed al Manae, "A Arábia Saudita é um aliado do Ocidente e um Estado de orientação islâmica". "Sua política exterior não terá mudanças profundas, ainda que o estilo possa diferir entre um dirigente e outro".
Pragmatismo
No conjunto, completou, "o país mantém uma relação pragmática com o Ocidente", embora os vínculos com os Estados Unidos tenham tido altos e baixos desde que Washington iniciou em 2013 uma abertura até Teerã.
A Arábia Saudita, receosa quanto a uma aproximação entre Ocidente e Irã, seu rival regional rival xiita, "seguirá desconfiando de seu vizinho, acusado de interferir nos assuntos do Iraque, Síria, Líbano, Bahrain e Iêmen", explicou Manae.
"Embora Salman seja conhecido por ser um conservador, será difícil para ele se desviar da política traçada pelo reino de Abdullah, e também deverá fomentar a harmonia com seu príncipe herdeiro Muqrin, um reformista", considera Manae.
Segundo ele, "o príncipe Muqrin poderá, no plano interno, desenvolver a experiência do Majlis al Shura (conselho consultivo) para que evolua até um tipo de parlamento com prerrogativas limitadas".
Redução de ajuda
Também deve continuar com a política social empreendida pelo rei Abdullah para "ajudar as populações menos favorecidas, que são recrutadas pelas correntes fundamentalistas islâmicas", fonte de preocupação para a dinastia dos Al Saud, comentou.
"O reino necessita de um poder central forte (...), capaz de reagir política e militarmente" qualquer acontecimento na região, explica o investigador, que cita a situação "síria em Bahrain e no Iêmen". Estes dois países fronteiriços são cenários de distúrbios, nos quais estão envolvidas as comunidades xiitas suspeitas de vínculos com o Irã.
Segundo fontes políticas iemenitas, Riad suspendeu recentemente sua ajuda ao Iêmen, onde a milícia xiita armada Ansarualá também chamada huthi, controla a capital, Sanaa, e forçou nesta quinta-feira a a demissão do presidente e do governo.
"As pressões sauditas continuarão provavelmente até que os huthis provem que não são a ligação do Irã no Iêmen", explicou o analista kuwaitiano.
Mas o reino, afetado pelo colapso nos preços do petróleo, do qual obtém 90% de sua renda, reduzirá sua ajuda a outros países árabes, como Egito, explicou Frédéric Wehrey.
"Já assistimos a um corte da ajuda saudita no Egito porque os sauditas não podem continuar indefinidamente sua ajuda com a queda do preço do petróleo", explicou.