Sigurdur Ingi Johannsson: o Partido Progressista e o Partido da Independência tinham acertado ontem à noite manter a aliança (Sigtryggur Johannsson / Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de abril de 2016 às 15h52.
Copenhague - O até então ministro da Agricultura da Islândia, Sigurdur Ingi Jóhannsson, assumiu formalmente nesta quinta-feira o cargo de primeiro-ministro interino do país, substituindo seu companheiro de partido, Sigmundur David Gunnlaugsonn, que renunciou após ser citado nos Panama Papers.
O Partido Progressista e o Partido da Independência, que governam em coalizão desde 2013, tinham acertado ontem à noite manter a aliança e antecipar as eleições para o segundo semestre deste ano, sem data definida, até completar os pontos de seu programa de governo, como o fim dos controles de capitais introduzidos em 2008.
O novo ministério que tomou posse hoje inclui outras mudanças. Gunnar Bragi Sveinsson deixa o ministério das Relações Exteriores para assumir a vaga aberta na Agricultura. No seu lugar, entra Lilja Dögg Alfredsdóttir, que atuava como assessora econômica do governo.
Apesar da renúncia, Gunnlaugsonn manterá seu cargo de deputado e a presidência do Partido Progressista. Ele foi a primeira vítima política dos Panama Papers, escândalo de ocultação de dinheiro por meio de offshores que envolve políticos, empresários e celebridades.
Os Panama Papers revelaram que Gunnlaugsonn possuía uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, na qual depositou US$ 4 milhões em bônus dos três grandes bancos do país durante a crise de 2008. No fim de 2009, após ser eleito deputado, o ex-primeiro-ministro vendeu metade da companhia para a esposa por US$ 1.
Apesar de ter reiterado que nem ele nem sua esposa usaram a empresa para não pagar impostos na Islândia e ter inicialmente se negado a renunciar, as pressões externas e internas forçaram que ele deixasse o cargo, mudança que foi formalizada hoje.
Em um discurso no parlamento, o novo primeiro-ministro interino pediu aos políticos citados nos Panama Papers e com companhias em paraísos fiscais que tragam de volta seu dinheiro à Islândia, apesar de ter afirmado que não há motivo para a movimentação ser ilegal.
A oposição de centro-esquerda, que tinha apresentado na segunda-feira uma moção contra Gunnlaugsonn, anunciou uma outra contra o novo governo, que será votada amanhã e não tem perspectivas de prosperar, já que a coalizão no poder tem ampla maioria.
A renúncia de Gunnlaugsonn, no entanto, não serviu para acalmar os ânimos dos manifestantes contrários ao governo, que voltaram a convocar um novo protesto no centro de Reykjavík.
Milhares de islandeses foram às ruas desde segunda-feira em mobilizações que lembraram as realizadas em 2008 após a explosão da crise que provocou a queda do conservador Geir Haard e possibilitou, pela primeira vez na história, a vitória de um político de esquerda.
Quatro anos depois, Gunnlaugsson assumiu o poder após o Partido Progressista ter sido o vencedor moral das eleições, graças a uma espetacular ascensão e apesar de a legenda mais votada ter sido o Partido da Independência.
As pesquisas realizadas nos últimos dias apontam uma queda dos partidos no poder e uma espetacular alta do Partido Pirata, que teve se transformaria no grupo mais votado após ter obtido apenas 5,1% da preferência do eleitorado no último pleito.