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Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2014 às 17h45.
Paris - O presidente francês, François Hollande, nomeou nesta terça-feira um novo governo sem os principais representantes da ala esquerda do Partido Socialista (PS), que criticam sua política de austeridade.
O ex-banqueiro Emmanuel Macron, de 36 anos, será o novo ministro da Economia. Homem de confiança de Hollande, Macron substituirá Montebourg Arnaud, que contribuiu para a maior crise política do atual presidente, ao fazer duras críticas às políticas econômicas do governo.
A designação de Macron, que segue uma linha mais liberal e não é membro do PS, demonstra que Hollande e o primeiro-ministro Manuel Valls optaram por deixar de lado as críticas dos defensores de uma política mais social, em um período em que a França amarga um alto índice de desemprego.
O novo governo conta com 16 ministros: oito homens e oito mulheres. Permanecerão nos cargos o ministro das Relações Exteriores e número dois do governo, Laurent Fabius, o ministro da Defesa, Yves Le Drian, e a ministra da Justiça, Christiane Taubira.
Najat Vallaud-Belkacem, que era ministra da Juventude e dos Esportes, assumiu o Ministério da Educação, substituindo Benoit Hamon, outro representante da ala esquerda do PS que apoiava as críticas do ex-ministro Montebourg.
Hollande havia pedido ao primeiro-ministro Valls a formação de um governo com uma linha mais "clara". "Os comportamentos precisam garantir a coerência, o respeito e a solidariedade", de acordo com o Palácio do Eliseu.
O objetivo de Valls era anunciar um governo mais homogêneo, sem Montebourg, Hamon, e nem a ministra da Cultura, Aurélie Filippetti.
Hollande e Valls vão mal nas pesquisas de opinião: apenas 17% dos franceses aprovam o presidente, enquanto 34% avaliam positivamente o primeiro-ministro, de acordo com uma pesquisa do instituto Ipsos-Le Point, divulgada na segunda-feira. Além disso, a situação econômica é preocupante: o crescimento estagnou no primeiro semestre, enquanto o desemprego continua crescendo e atinge cerca de 11% dos trabalhadores.
Os colunistas franceses falavam, nesta terça-feira, de uma grave "crise do regime", após o anúncio da reformulação ministerial e a saída dos três ministros favoráveis a uma política de governo mais social, menos de cinco meses após a nomeação de Valls como chefe poder executivo.
Surpreendendo a todos, Valls e Hollande decidiram, na segunda-feira, pôr fim às divergências entre os favoráveis à estratégia oficial - recuperar a competitividade do país, apoiando as empresas e reduzindo os gastos públicos - e os partidários de uma política alternativa, contrária à "redução à força do déficit público", considerando que esta estratégia não favoreceria o crescimento e seria prejudicial aos mais pobres.
Falta de apoio
Desde a instauração da V República na França, em 1958, o governo de Valls foi um dos mais curtos.
A indicação do novo governo corre o risco de acentuar a falta de apoio interno ao presidente socialista, eleito em maio de 2012.
Os socialistas e seus aliados radicais têm 305 deputados, sendo que a maioria absoluta é alcançada com 289 parlamentares. Porém, um grupo de deputados críticos à política econômica e social do governo ameaça a maioria parlamentar.
Hollande já não pode contar nem com o apoio de parte da extrema-esquerda, que praticamente migrou para a oposição, nem com os membros do Partido Verde, que deixaram o governo depois da posse de Valls.
Políticos de todas as vertentes, a começar pela presidente da Frente Nacional (de extrema direita), Marine Le Pen, falavam nesta terça-feira de uma possível dissolução da Assembleia Nacional, em resposta à crise de governo.
Nem Valls nem Hollande se manifestaram publicamente sobre a crise do governo.