O casal envenenado adoeceu em casa em Amesbury no sábado (30) e foram hospitalizados no mesmo local onde o ex-espião russo foi tratado (Henry Nicholls/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 5 de julho de 2018 às 15h58.
Londres - O que nesta quarta-feira, 4 era apenas uma suspeita, ganha agora contornos de acusações mais sérias. O ministro do Interior britânico, Sajid Javid, pediu à Rússia que explique o envenenamento por Novichok, depois que mais duas pessoas foram expostas ao agente neurotóxico. Javid disse que a substância usada agora foi a do mesmo tipo que o ex-espião russo que já trabalhou como agente duplo Sergei Skripal e sua filha foram expostos em março.
Conforme registros da imprensa local, o ministro informou que 100 agentes antiterroristas estavam trabalhando com a Polícia de Wiltshire, onde foi identificado o caso. "Agora é hora de o Estado russo se manifestar e explicar exatamente o que aconteceu", disse ele a parlamentares.
O casal, que por enquanto foi identificado como Charlie Rowley, de 45 anos, e Dawn Sturgess, de 44 anos, adoeceu em casa em Amesbury, Wiltshire, no sábado, 30 de junho, e continua gravemente doente. Javid disse que há "forte suposição" de que o casal entrou em contato com o agente neurotóxico em um lugar diferente dos locais que fizeram parte da operação de limpeza após o envenenamento de Skripal.
"É completamente inaceitável que nosso povo seja alvo, deliberado ou acidental, ou que nossas ruas, parques e cidades sejam depósitos de veneno", acrescentou, de acordo com a BBC.
A rede britânica de comunicação disse que, mais cedo, a primeira-ministra Theresa May afirmou ser "profundamente perturbador" ver mais duas pessoas expostas à Novichok no Reino Unido. Segundo ela, a polícia não deixaria "pedra sobre pedra em suas investigações".
Conforme registrou o Broadcast na manhã desta quarta-feira, 4, o casal foi encontrado inconsciente em casa no sábado à noite e a primeira avaliação da polícia foi a de que os pacientes teriam usado heroína ou crack de um lote contaminado de drogas. Na quarta, porém, a polícia mudou a abordagem do episódio e declarou se tratar de um "incidente grave" depois de revelar que o casal havia sido exposto a uma "substância desconhecida".
No final da noite desta quarta, a Scotland Yard disse que as análises feitas pelo centro de pesquisa de defesa em Porton Down, também em Wiltshire, no sul da Inglaterra, apontaram que a tal substância era, na verdade, Novichok. Depois do incidente com o ex-espião, a 16 quilômetros do local do episódio agora, o governo britânico acusou Moscou pelo ocorrido já que o agente de uso militar foi desenvolvido em instalações de armas químicas da então União Soviética.
O episódio de março gerou uma reação coordenada entre Estados Unidos, Canadá e 20 aliados europeus, que ordenaram a saída de diplomatas russos de seus territórios. A medida foi uma demonstração coletiva de apoio à Theresa May e elevou o grau de tensão entre o governo de Vladimir Putin e o Ocidente, antes do início da Copa do Mundo de futebol.