Policial investiga cena de ataque contra ex-agente russo, Sergei Skripal: substância usada em envenenamento é de produção soviética (Peter Nicholls/Reuters)
AFP
Publicado em 13 de março de 2018 às 11h19.
Última atualização em 26 de março de 2018 às 15h01.
Os agentes neurotóxicos "Novitchok", como o usado em 4 de março para envenenar um ex-espião russo na Grã-Bretanha, são uma especialidade russa pouco conhecida em outros lugares e particularmente perigosa.
Serguei Skripal, de 66 anos, foi encontrado em estado crítico em um banco em Salisbury (sul da Inglaterra), onde vivia desde uma troca de espiões entre Moscou, Londres e Washington.
Na segunda-feira, a primeira-ministra britânica, Theresa May, respondeu a uma pergunta que provocava muitas especulações: com qual substância este ex-agente duplo foi atacado?
Resposta: um agente do grupo "Novitchok" ("recém-chegado" ou "novo filho").
Sua concepção remonta aos anos 1970-1980, as últimas décadas da Guerra Fria. E os especialistas ocidentais sabem pouco sobre essas temíveis armas químicas, incluindo antídotos.
"A ciência exata e a ação dos agentes Novitchok não são totalmente compreendidas, pois é a geração mais recente desses agentes", explica farmacologista e criminologista Michelle Carlin, da Universidade de Northumbria.
"Também são considerados muito mais tóxicos do que os agentes neurotóxicos suspeitos anteriormente neste caso", acrescentou, citada pelo Science Media Center.
Os agentes neurotóxicos são contaminantes que atacam o sistema nervoso, especialmente as enzimas que asseguram a comunicação com os músculos.
Até então, os cientistas haviam avançado a hipótese de um ataque com gás sarin ou VX, originalmente concebidos pela Alemanha nazista, e relativamente difundidos hoje.
Mas Serguei Skripal e sua filha, ainda hospitalizadas, obviamente foram vítimas de um crime que fará história.
De acordo com vários meios de comunicação russos, esses agentes Novitchok foram concebidos por cientistas soviéticos no Instituto Público de Química Orgânica e Tecnologia GNIIOKhT, fundado em Moscou, em 1924, e classificado como empresa estratégica por decreto presidencial em 2004.
Este instituto se especializou recentemente na destruição dos estoques de armas químicas russas.
Não há outra fonte conhecida para esses agentes, o que levou May a considerar como "muito provável" o envolvimento do governo russo no incidente.
Os Estados Unidos apoiaram Londres e o secretário de Estado Rex Tillerson afirmou "confiar na investigação britânica de que a Rússia provavelmente é responsável pelo ataque".
A hipótese foi chancelada na imprensa britânica por um dos "pais" dos agentes Novitchok, Vil Mirzayanov, de 83 anos. "Somente a Rússia poderia fazer isso (...) Foi uma demonstração deliberada do poder de Vladimir Putin contra seus inimigos", declarou ao Telegraph este químico exilado em Princeton (Estados Unidos).
Seus comentários sobre os efeitos fisiológicos são aterrorizantes. "É uma verdadeira tortura, é impossível imaginar. Mesmo em baixas doses, a dor pode durar semanas", disse ele ao Daily Mail.
Acredita-se que a Rússia tenha destruído todos os seus estoques de armas químicas declaradas.
Mas, a partir de sua concepção, os agentes Novitchok tiveram a vantagem, ou a desvantagem, dependendo do ponto de vista, de poderem ser fabricados a partir de componentes autorizados.
Ao contrário de outras armas do mesmo tipo, "os produtos químicos misturados para obtê-los são muito mais fáceis de transportar sem risco para a saúde do entregador", ressaltou Gary Stephens, farmacologista da Universidade de Reading, citado por Science Media Center.