Mulher mostra seu novo passaporte em Havana: medidas para restringir a emigração no país deixaram de vigorar (REUTERS/Enrique De La Osa)
Da Redação
Publicado em 15 de janeiro de 2013 às 11h14.
Havana - As novas regras que dão mais liberdade aos cubanos para saírem do país, que entraram em vigor na segunda-feira, surpreenderam dissidentes famosos, como Yoani Sánchez e Guillermo Farinas, que foram informados que receberão passaportes e poderão viajar quando e para onde quiserem, após vários anos de restrições.
De acordo com leis adotadas depois da revolução de 1959, com o objetivo de restringir a emigração, os cubanos até agora precisavam solicitar um visto de saída quando quisessem viajar, apresentando para isso uma carta-convite de alguém no país de destino. Essas medidas agora deixaram de vigorar.
Farinas, que realizou na sua casa, em Santa Clara, várias greves de fome contra o regime comunista, disse ter ficado surpreso por receber uma visita de autoridades que lhe informaram sobre a possibilidade de viajar livremente.
"Eu estava realmente cético, porque havia um artigo na nova lei dizendo que os cubanos que ameacem o interesse público não poderão sair de Cuba. Eu achei que estava nessa esfera, mas parece que não", disse Farinas, que é psicólogo.
Ele disse que terá seu passaporte renovado em breve, e que planeja ir à Europa receber vários prêmios que ganhou nos últimos anos. Isso inclui o Prêmio Sakharov da Liberdade de Pensamento, concedido em 2010 pelo Parlamento Europeu.
Sánchez, conhecida internacionalmente por seu blog "Generación Y", não foi localizada, mas divulgou a boa notícia no seu Twitter.
Ela disse que foi na segunda-feira a um órgão de Havana que emite passaportes, onde "o funcionário que me atendeu me garantiu que, quando eu tiver um passaporte, poderei viajar". "Ainda não acredito! Quando estiver no avião, vou acreditar!", comentou.
Sánchez disse que em 20 ocasiões as autoridades cubanas a proibiram de viajar. Ela contou que espera receber seu novo passaporte no começo de fevereiro.
Outro dissidente, Elizardo Sánchez, que dirige a Comissão Cubana de Direitos Humanos --um órgão independente, tolerado pelo regime-- disse que ainda não tem certeza de que Farinas e Sánchez poderão deixar Cuba.
"Até que eles estejam naquele avião não podemos ter certeza de nada. Já aconteceu no passado de as pessoas chegarem ao aeroporto e o governo dizer que não", comentou o dissidente à Reuters.
As novas regras causaram filas para a emissão de passaportes nas últimas semanas, e isso voltou a acontecer na segunda-feira, quando muitos cubanos foram até os órgãos competentes para solicitar novos passaportes ou a renovação dos já expirados.
Alguns ainda não perceberam isso, mas os cubanos devem continuar enfrentando obstáculos de muitos países que irão exigir vistos de entrada e cartas-convites.
E, num país onde o salário médio é de 19 dólares mensais, o dinheiro será um problema para muita gente.
Possivelmente por causa disso, as filas em embaixadas como as do México e Canadá estavam normais, assim como na Seção de Interesses dos EUA (órgão que substitui a embaixada na ausência de relações diplomáticas formais entre os países).
"É tudo com hora marcada aqui, então não estamos vendo nada diferente", disse a porta-voz Lynn Roche.