Manifestantes saem em passeata da Praça de Maio até o Congresso, em Buenos Aires, pedindo a proteção dos empregos (Juan Mabromata/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de agosto de 2014 às 17h17.
Buenos Aires - Com bloqueios de ruas, começou nesta quinta-feira na Argentina a segunda greve nacional do ano, convocada pelas três centrais sindicais opositoras à presidente Cristina Kirchner, que buscam paralisar o país exigindo melhorias salariais, em um momento em que a economia está em declínio.
O governo minimizou o movimento ao informar que "75% dos trabalhadores não aderiram à greve", segundo o chefe de Gabinete da Presidência, Jorge Capitanich, em coletiva de imprensa. O porta-voz da presidência afirmou que "há 20 sindicatos que não aderiram, com 30.000 afiliados".
Grupos sindicais e partidos de esquerda radical realizam piquetes, desde a madrugada de quinta-feira, nos principais acessos a Buenos Aires para impedir a passagem de alguns transportes públicos, como táxis e ônibus que não se juntaram aos grevistas, em direção à capital. Diariamente, Buenos Aires recebe mais de um milhão de pessoas vindas da periferia, somadas à população de três milhões de habitantes.
A greve foi convocada contra a queda do emprego, contra um imposto sobre a renda que afeta grande parte da massa trabalhadora e contra uma inflação incontrolável que é vivida em um clima de incerteza financeira pelo bloqueio judicial de pagamentos da dívida nos Estados Unidos. O impasse empurrou a terceira economia da América Latina para um "default" seletivo.
Maquinistas de trens, bancários, portuários, trabalhadores aeronáuticos, funcionários de hospitais públicos e caminhoneiros são alguns dos poderosos sindicatos que interromperam as atividades por 24 horas nesta quinta-feira e se somaram a outros sindicatos que na quarta-feira começaram uma greve por 36 horas.
Os grevistas não conseguiram, porém, a adesão do sindicato dos motoristas de ônibus, transporte crucial que na primeira greve deste ano, em 10 de abril, cumpriu o objetivo de esvaziar as ruas, os postos de trabalho e as escolas.
Alguns motoristas de vias bloqueadas interromperam os serviços, enquanto outros exigiram que o governo garanta medidas de segurança.
"A greve será muito importante. Os coletivos estão (presentes), agora resta saber como irão conduzi-la", disse Hugo Moyano, principal líder do protesto e chefe da CGT-Azopardo, um dos setores antikirchneristas da Confederação Geral de Trabalho (CGT).
Além da CGT de Moyano, também convocaram a greve a CGT Azul y Blanca, de Luis Barrionuevo, e o setor opositor da também dividida Central de Trabalhadores da Argentina (CTA). Os outros setores da CTA e a CGT Balcarce, mais próxima do governo, não aderiram à paralisação.
Embora a greve até agora se verifique apenas como uma semiparalisação nas ruas, não estão funcionando serviços importantes como trens e aviões de cabotagem. Em alguns hospitais públicos, também não há funcionários trabalhando.
Os sindicatos denunciam que a inflação anual superior a 30% castiga sem piedade os bolsos dos trabalhadores, em um momento em que a taxa de desemprego cresceu de 7,1% para 7,5%.
Para o governo, "não há dúvida de que essa é uma greve de natureza política, com um objetivo opositor. Grande parte desses sindicalistas se alinha politicamente com a oposição", atacou Capitanich.
Na Argentina, há cerca de 11 milhões de trabalhadores registrados, dos quais aproximadamente 40% são sindicalizados. Cerca de quatro milhões não têm emprego formal.
Protestos nas ruas
Nesta quinta-feira pela manhã, táxis e ônibus circulavam por Buenos Aires. No metrô da capital, três linhas foram paralisadas em razão da greve, mas as outras continuaram funcionando. Desde cedo, havia um número de carros particulares acima do normal, e as autoridades da capital autorizaram o livre estacionamento.
Sindicatos radicais e grupos de esquerda marcharam na quarta-feira pelo centro de Buenos Aires em protesto pela situação econômica que atravessa o país.
"São as mesmas reivindicações que fizemos no dia 10 de abril (data da primeira greve nacional do ano) mas, agora, agravada por demissões e suspensões de trabalhadores. Quatro meses depois, o poder aquisitivo caiu de modo significativo", ressaltou Pablo Micheli, liderança da CTA opositora.
Os manifestantes pedem que essas demissões e suspensões sejam proibidas por um ano e que o imposto sobre os salários seja abolido. Pedem ainda a reabertura das negociações coletivas, devido à inflação, que acumula 16,7% entre janeiro e julho, segundo dados oficiais, e quase 40%, de acordo com as consultorias privadas.