Mariam Ishag: Sudão não a reconhece como cidadã sul-sudanesa porque casamento com cristão não é reconhecido (AFP)
Da Redação
Publicado em 25 de junho de 2014 às 12h45.
Cartum - O Sudão convocou os embaixadores dos Estados Unidos e do Sudão do Sul depois da nova detenção de uma cristã que estava tentando voar para os Estados Unidos com sua família após ser liberada da prisão, onde aguardava cumprimento da pena de morte, informou o serviço de segurança do Estado nesta quarta-feira.
Mariam Yahya Ibrahim foi libertada na segunda-feira depois que um tribunal de apelações anulou a sentença de morte - imposta por ela ter renunciado ao islamismo para se converter ao cristianismo e assim se casar com um homem cristão -, depois que o governo ficou sob o que chamou de pressão internacional sem precedentes.
Mas Mariam foi novamente detida na terça-feira ao tentar usar documentos emitidos pela embaixada do Sudão do Sul para sair de Cartum com o marido, que é norte-americano e sul-sudanês, e seus dois filhos -, aprofundamento a disputa diplomática sobre seu caso.
O Sudão não a reconhece como cidadã sul-sudanesa porque, apesar da suspensão da sentença, seu casamento com um cristão não é reconhecido, já que não é permitido sob as leis islâmicas aplicadas no Sudão, onde a maioria da população é muçulmana sunita.
O Sudão do Sul, onde a maioria da população é cristã, tornou-se independente do Sudão após um referendo em 2011, que acabou com anos de guerra civil.
"A polícia do aeroporto apreendeu o passaporte de Abrar depois que ela apresentou os documentos de viagem de emergência emitidos pela embaixada do Sudão do Sul e um visto norte-americano", disse o Serviço Nacional de Inteligência do Sudão e o departamento de mídia dos Serviços de Segurança, no Facebook, referindo-se a Mariam pelo seu nome muçulmano.
"As autoridades sudanesas consideram (a ação) uma violação criminal, e o Ministério das Relações Exteriores convocou os embaixadores norte-americano e do Sudão do Sul." O advogado dela, Mohaned Mostafa, disse à Reuters que Mariam foi acusada de forjar os documentos de viagem. Sob o código penal do Sudão, forjar um documento é punível com até cinco anos de prisão.
Nesta quarta-feira ela ainda estava sendo mantida em uma delegacia de Cartum, onde passou a noite com a família, que se recusou a sair sem ela, disse Mostafa.
Seu caso provocou clamor internacional e foi acompanhado de perto por Washington e Londres, que no mês passado, convocaram o Sudão para protestar contra sentença de morte inicial de Mariam e exigir que o país cumpra suas obrigações internacionais sobre a liberdade de religião ou crença.
Em Washington, o Departamento de Estado dos Estados Unidos disse na terça-feira que a embaixada norte-americana está "altamente envolvida" no trabalho com a família e com o governo sudanês para resolver a questão.
"O governo nos deu garantias sobre a sua segurança", disse a porta-voz do Departamento de Estado Marie Harf a repórteres. "Estamos negociando diretamente com as autoridades sudanesas para garantir sua saída segura e rápida do Sudão." Os Estados Unidos impuseram sanções econômicas ao Sudão em 1997 por acusações de violações dos direitos humanos. As sanções foram intensificadas em 2006 devido às ações de Cartum em seu conflito com rebeldes na região ocidental de Darfur.