Vladimir Putin e Donald Trump: sem o tratado de mísseis de médio alcance, resta entre Rússia e EUA, somente o acordo START, que expira em 2021 (Kevin Lamarque/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de agosto de 2019 às 06h13.
Última atualização em 2 de agosto de 2019 às 10h05.
O mundo está prestes a entrar em uma nova corrida armamentista? Nesta sexta-feira, 2, Estados Unidos e Rússia formalmente saem do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês), assinado em 1987, durante a Guerra Fria. Os governos de Washington e Moscou mutuamente se acusam de violar as regras e planejam a saída do acordo há alguns meses.
Vladimir Putin, presidente russo, anunciou que o país deixaria o tratado em março, depois que Donald Trump, líder americano, informou que iria retirar os Estados Unidos do acordo.
A Casa Branca justificou a saída com dois argumentos: primeiro, o de que os russos violaram as normas e, segundo, que o tratado restringiria as opções armamentistas norte-americanas, enquanto outros rivais, como a China, estariam “livres”.
Faz cinco anos que o governo norte-americano denuncia que os russos desenvolveram um míssil que violaria o INF: o 9M729. De acordo com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a arma tem alcance de 1.500 quilômetros, o que é mais que o permitido pelo acordo. A Rússia alega que o míssil só tem capacidade de voo de 480 quilômetros.
Quando Trump avisou que deixaria o tratado, o governo russo não tentou convencê-lo a ficar. A Rússia também critica as normas do INF há anos, dizendo que o acordo dá vantagens injustas para Washington.
Toda vez que os Estados Unidos desenvolvem um sistema de defesa de mísseis para aliados asiáticos e europeus, os russos questionam os limites do tratado. A Casa Branca argumenta que os sistemas são defensivos, mas Moscou teme que eles sejam uma tentativa de conter suas capacidades nucleares.
Com o fim do INF, Putin já planeja o lançamento de novos armamentos de médio-alcance. Moscou tem planos de desenvolver uma versão terrestre do míssil Kalibr, que foi usado com sucesso pela marinha do país durante a guerra da Síria.
O único medo da administração é endividar o país com gastos em armamentos, como aconteceu com a União Soviética durante a Guerra Fria. Putin delimitou que os novos mísseis deverão ser desenvolvidos “sem aumentar o orçamento de defesa”.
Os Estados Unidos também estão desenvolvendo pelo menos três novos tipos de mísseis de médio-alcance, para ogivas convencionais, não nucleares. O primeiro deles, com alcance estimado de 1.000 km, deve ser testado ainda este mês. Uma segunda opção, que chega a distâncias de 4.000 km, será testada em novembro.
Em terceiro lugar, o exército planeja desenvolver um míssil para ser lançado de bases móveis. Segundo o Pentágono, a primeira arma deve estar disponível para uso dentro de um ano e meio.
Fora o INF, há um outro acordo que regulamenta o desenvolvimento e uso de armas entre EUA e Rússia: o Tratado START, firmado em 2010. Ele é o responsável por manter os arsenais nucleares de ambos os países abaixo do pico atingido durante os anos de Guerra Fria. O acordo expira em 2021 e, segundo John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, não há muito interesse em negociar uma extensão.
A provável escalada armamentista preocupa principalmente os países europeus, que estão posicionados entre os dois países. Com o fim do INF, António Guterres, Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), na última quinta-feira, 1º, disse estar preocupado com o aumento das tensões entre os países que possuem armas nucleares. “O mundo perderá um freio inestimável contra a guerra nuclear”, afirmou.