Hong Kong: país passa por protestos há 23 semanas seguidas (Tyrone Siu/Reuters)
Beatriz Correia
Publicado em 13 de novembro de 2019 às 05h50.
Última atualização em 13 de novembro de 2019 às 06h50.
Logo após Alex Chow ter caído da beira de uma garagem em Hong Kong, rumores começaram a se espalhar pela Internet.
Postagens que circulavam em grupos de bate-papo e redes sociais alegavam que o estudante, de 22 anos, foi perseguido — e talvez até empurrado — pela polícia que estava dispersando manifestantes com gás lacrimogêneo nos arredores.
Os policiais teriam impedido que uma ambulância chegasse até Chow, alegaram os posts, adiando a ajuda que poderia ter salvado sua vida.
Não importa que as alegações não tenham fundamento, que a polícia tenha negado que perseguiu Chow e que os principais veículos de notícias, como o South China Morning Post, tenha descrito as circunstâncias de sua queda como incertas. Centenas de manifestantes usaram sua morte no dia 8 de novembro como motivo para enfrentar a polícia, o que resultou em uma pessoa sendo baleada na segunda-feira.
Enquanto os protestos contra o governo de Hong Kong se estendem pela 23ª semana consecutiva, a cidade é inundada com rumores on-line, notícias falsas e propaganda de ambos os lados da divisão política. A retórica polarizadora alimenta a desconfiança e a violência, dificultando a solução da crise que mergulhou Hong Kong em uma recessão e levantou dúvidas sobre o papel da cidade como principal centro financeiro da Ásia.
“As informações falsas são alimentadas para polarizar a opinião pública”, disse Masato Kajimoto, professor assistente do Centro de Estudos de Jornalismo e Mídia da Universidade de Hong Kong, que passou os últimos sete anos estudando notícias falsas. “Receio que chegue a um ponto em que a reconciliação dessa divisão não seja mais possível.”
Embora a disseminação da desinformação tenha se tornado uma preocupação crescente em todo o mundo, poucos lugares foram afetados nas últimas semanas como Hong Kong. Somente nas últimas 24 horas, as autoridades locais negaram rumores de que teriam ordenado que a polícia disparasse contra os manifestantes à vontade; planejado limitar os saques dos bancos; e que usaria forças de emergência para fechar mercados financeiros e escolas. Depois de um dos dias mais violentos desde que os protestos começaram em junho, a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, instou os cidadãos a “manter a calma e ver os fatos”.