Escola na Virgínia: reabertura levanta questionamentos sobre o risco de disseminação maior da covid-19 (Kevin Lamarque/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 7 de agosto de 2020 às 12h22.
Última atualização em 7 de agosto de 2020 às 17h11.
Os Estados Unidos começaram a reabrir escolas, mas a volta às aulas nos EUA acontece enquanto diversas regiões do país ainda enfrentam seus picos de casos da covid-19. Uma projeção da Universidade de Austin, no Texas, mostrou que, em algumas regiões, uma escola de cerca de 500 alunos poderia receber na volta às aulas mais de dez jovens infectados com o novo coronavírus.
Mais de 80% dos americanos moram em um condado em que ao menos uma pessoa possivelmente irá à escola estando infectada com o coronavírus, segundo o levantamento. Há mais de 3.000 condados (os counties) nos EUA. A data base da projeção foi a semana de 31 de julho.
Os estudantes com a doença, assim, poderiam cada qual passar a covid-19 para um ou mais colegas, além de parentes e outras pessoas de suas comunidades, aumentando as taxas de contágio em uma região.
As projeções mudam a depender dos estados. Os EUA vivem uma segunda onda do coronavírus quase sem ter finalizado a "primeira onda". Enquanto o começo da pandemia atingiu mais os estados da costa Leste do país, como Nova York, os novos picos de contágio recentes estão em estados do Sul, como Texas e Flórida, e da costa Oeste, como a Califórnia.
Nos condados com maior risco, como Miami, na Flórida, Nashville, no Tennessee, e Las Vegas, em Nevada, a probabilidade é que ao menos cinco alunos infectados compareçam às aulas em uma escola de 500 pessoas. Isso porque, nessas áreas, a estimativa é que uma em cada 70 pessoas esteja atualmente com covid-19.
É o que os pais americanos temem que aconteça nas escolas americanas reabertas agora, segundo reporta o jornal The Washington Post. Uma das soluções apontadas pelo próprio estudo da Universidade de Austin, sobretudo em locais que já controlaram o coronavírus, é o uso de turmas menores e que fiquem isoladas do restante da escola.
Se uma turma de dez pessoas assistir a aulas junta mas não entrar em contato com o resto da escola, em vários distritos há, ao menos nessa primeira semana de aula, chance de que zero alunos compareçam às aulas com coronavírus.
O estudo não consegue quantificar o que aconteceria nos meses subsequentes. A projeção é feita para uma primeira semana de aulas.
No Brasil, que tem mais de 2,8 milhões de casos de coronavírus, a maior parte dos estados ainda não definiu uma data precisa para a volta às aulas presenciais. Uma autorização de permissão de retorno a escolas particulares no Rio de Janeiro neste mês também foi derrubada pela Justiça. Em São Paulo, que concentra o maior número de alunos do país, o governador João Doria (PSDB) anunciou nesta sexta-feira, 7, que o retorno às aulas presenciais ficou para outubro.
Nos Estados Unidos, com a reaproximação da volta às aulas, uma série de protestos de rua contra a reabertura das escolas e pedindo mais segurança no processo tomaram as ruas nas últimas semanas, organizados por alunos, professores e trabalhadores em diversos estados americanos. Dentre os cartazes nos atos, muitos pedem uma abordagem mais equitativa nas reflexões sobre a reabertura, com o temor de que escolas em bairros mais pobres e minorias sociais e raciais sejam mais impactos pela volta às aulas.
Enquanto o número de casos de coronavírus era de 23 a cada 10.000 pessoas brancas nos EUA no começo de julho, para negros e latinos a taxa de contágio é superior a 60 pessoas. A média do país era de 38 casos a cada 10.000 habitantes no mesmo período.
Um dos casos emblemáticos que acendeu a discussão sobre a volta às aulas e a outras atividades nos EUA -- e em outros países do mundo com alta em casos, como o Brasil -- aconteceu entre as próprias autoridades americanas nesta semana.
O governador de Ohio, Mike DeWine, só descobriu que estava com coronavírus quando fez um teste para se encontrar com o presidente Donald Trump. Não fosse a reunião e a obrigatoriedade do teste para o compromisso, DeWine talvez nunca soubesse que estava com covid-19 e seguisse podendo infectar outras pessoas.
As férias de verão americanas acontecem entre maio e agosto, o oposto do ano letivo no Brasil -- pelo fato de os Estados Unidos estarem no hemisfério Norte. Assim, o ano letivo foi interrompido perto do fim no começo da pandemia. Agora, passadas as férias de verão, as escolas começam um novo ano letivo neste mês de agosto.
Os planos de volta às aulas diferem em cada localidade. A maioria dos locais na Califórnia afirmaram que vão manter aulas majoritariamente online nestes primeiros meses, incluindo alguns dos maiores distritos do estado, como San Diego e Los Angeles. Já a cidade de Nova York vai reabrir as escolas, mas gradualmente, com aulas só de uma a três vezes por semana e rodízio de alunos.
Estados como o Arizona, Colorado, Mississippi e outros já adiaram o retorno às aulas para meados de agosto ou mesmo setembro em meio à alta de casos.
O presidente Donald Trump tem insistido que as escolas abram no cronograma previsto, à medida em que alguns governadores adiam os prazos.
Ao mesmo tempo em que há preocupação sobre o contágio na volta às aulas, as aulas feitas à distância vêm prejudicando o aprendizado dos alunos, sobretudo crianças mais jovens e minorias sociais, que têm menos acesso à internet, equipamentos e pouco auxílio dos pais. Alunos perto de sair da escola, no Ensino Médio, também tende a evadir em meio à pandemia.
A tendência, tanto nos EUA quanto em outros países, é que as escolas adotem o chamado ensino híbrido, com parte das aulas em pequenos grupos nas escolas e parte ainda online. Também não está claro, cientificamente, se crianças e jovens transmitem ou se infectam com o coronavírus da mesma forma que os adultos -- há estudos iniciais que indicam que os mais jovens podem transmitir menos a doença, embora isso ainda não esteja comprovado de forma segura o suficiente para garantir a segurança dos procedimentos.