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Nos Estados Unidos, republicanos buscam em DeSantis popularidade perdida com Trump

Apesar de Trump manter o controle sobre a base conservadora do partido, sua popularidade entre o eleitorado mais amplo parece ter caído mais uma vez

Logo após a vitória de Ron DeSantis, reeleito governador da Flórida por 19 pontos de vantagem, e o anúncio de Donald Trump de que disputará as primárias à presidência, a divisão no partido ficou mais clara. (Carlos Barria/Reuters)

Logo após a vitória de Ron DeSantis, reeleito governador da Flórida por 19 pontos de vantagem, e o anúncio de Donald Trump de que disputará as primárias à presidência, a divisão no partido ficou mais clara. (Carlos Barria/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de novembro de 2022 às 09h18.

Os resultados mais imediatos das eleições de meio mandato colocam o Partido Republicano no centro da disputa pela Casa Branca, em 2024. Logo após a vitória de Ron DeSantis, reeleito governador da Flórida por 19 pontos de vantagem, e o anúncio de Donald Trump de que disputará as primárias à presidência, a divisão no partido ficou mais clara.

Apesar de Trump manter o controle sobre a base conservadora do partido, sua popularidade entre o eleitorado mais amplo parece ter caído mais uma vez. Muitos dos candidatos que tinham seu apoio foram derrotados nas eleições legislativas realizadas no dia 8. Como foi o caso da Pensilvânia, onde Dr. Mehmet Oz - que chegou a dividir palanque com Trump - perdeu a cadeira para o Senado para o democrata John Fetterman.

Críticas

E não são poucos os republicanos que responsabilizam Trump pelo mau desempenho do partido, que não concretizou a esperada "onda vermelha" prevista por analistas. Vários governadores republicanos declararam publicamente suas ressalvas contra o ex-presidente. Em New Hampshire, o governador que se reelegeu com facilidade, Chris Sununu, disse repetidas vezes que seria politicamente imprudente que Trump anunciasse uma candidatura à Casa Branca antes do Natal.

Em Maryland, o governador Larry Hogan afirmou que Trump custou caro ao partido nos últimos três ciclos eleitorais e seria "um erro" nomeá-lo novamente candidato. A vice-governadora de Virgínia, Winsome Earle-Sears, que apoiou Trump em 2020, deixou claro que não pretende fazer o mesmo em 2024. O senador pelo Arkansas, Tom Cotton, e a senadora republicana pelo Wyoming, Cynthia Lummis, disseram recentemente que a liderança do partido já não está nas mãos do magnata, mas cada vez mais nas de DeSantis.

Saul Anuzis, que trabalha como estrategista político para o Partido Republicano e presidiu a legenda em Michigan de 2005 a 2009, afirmou ao Estadão que a divisão interna entre os republicanos é algo normal em qualquer partido. "Somos uma coalizão de vozes diferentes e, dependendo da geografia de onde elas venham, isso acarreta na formação filosófica. De um ponto de vista prático, sempre haverá divisões", conclui.

Para Anuzis, o que o partido deve buscar é a definição de um programa de governo que o ajude a voltar ao poder em 2024. Tem a seu favor nessa estratégia a vantagem de ter conquistado a maioria na Câmara dos Deputados, o que possibilitará, segundo ele, a frear o que disse ser uma "legislação ruim" do atual governo. "Esse será o papel principal nos próximos anos", diz.

Abordagem

Sua principal estratégia para o Partido Republicano antes das primárias é deixar claro ao eleitor as diferenças com o Partido Democrata. Mas o modo de comunicar esses contrastes deverá ser mais ameno do que a estratégia de confrontação de Trump.

"Se você der uma olhada nos dois potenciais candidatos principais, que são Glenn Youngkin, governador da Virginia, e DeSantis, ambos são conservadores, mas têm uma abordagem mais suave", diz Anuzis.

Ele explica que, apesar de eles compartilharem princípios com o ex-presidente, os dois praticamente não se envolvem com a mídia, não buscam provocar seus oponentes políticos ou não fazem questão de ser controvertidos.

Para o estrategista, esse retorno a um velho modo de fazer campanha pode agradar mais ao eleitor cansado dos extremismos. "Muitas pessoas querem ver um tipo de processo político normal, mais contido", diz.

Além disso, ele afirma que a necessidade de a campanha presidencial ser levada de uma forma diferente abre a oportunidade não apenas para DeSantis, mas a outros nomes para se apresentarem como candidatos a delegados do partido.

Embora DeSantis não tenha declarado abertamente seus planos para 2024, nunca descartou a possibilidade de se candidatar à Casa Branca. Para Anuziz, ele é um forte candidato, apesar de acreditar que não será o único.

Divisão

Ainda que aparentemente enfraquecido, o ex-presidente permanece como fator determinante dentro do partido, mas os republicanos parecem estar divididos, em termos amplos, em três facções: a pró-Trump, a anti-Trump, e a daqueles que só querem seguir em frente.

"Eles não são necessariamente anti-Trump, apenas acham que seria melhor apontarmos para a próxima geração de líderes", explica Anuzis.

Apesar dos pedidos de seus companheiros de sigla para que esperasse algumas semanas, Trump anunciou cedo sua pré-candidatura.

Desafios

Mas para Anuzis, a candidatura antecipada de Trump, em vez de trazer benefícios e fortalecer sua figura, pode acabar trazendo mais desafios. Um deles é que, agora que ele é o primeiro candidato, "as pessoas vão começar a julgá-lo por quantos endossos receberá, quem contratará, quem vai fazer parte da sua equipe", diz o estrategista.

Enquanto outros candidatos devem esperar até junho para finalmente anunciar se entrarão na disputa, Trump já terá percorrido vários meses de campanha. "Isso colocará muita pressão nele. Trump estará lá sozinho tentando se estabelecer e o partido vai julgar se ele é ou não um candidato forte o suficiente."

Ausência de um candidato forte do lado democrata pode beneficiar os republicanos. Para o estrategista, Joe Biden deverá pressionar os democratas para ser o candidato, apesar de seu alto índice de impopularidade.

Segundo o site Fivethirtyeight, que compila várias pesquisas de opinião, o panorama do democrata não é dos melhores e cerca de 52,9% dos americanos estão insatisfeitos com seu governo.

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