Paciente se despede da equipe médica em Wuhan: primeiros sinais do que viria a ser a maior crise de saúde da história moderna começaram em dezembro (China Daily/Reuters)
Carolina Riveira
Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 12h28.
Última atualização em 1 de dezembro de 2020 às 13h32.
O mundo chega neste mês de dezembro a pelo menos um ano de coronavírus. Até agora, um dos primeiros casos documentados foi justamente neste 1º de dezembro, em 2019, embora haja estudos de que o Sars-CoV-2 já circulava meses antes.
A pandemia começou a se espalhar em Wuhan, na China, e a hipótese mais aceita até agora é de que a doença veio de um morcego e depois foi transmitida a humanos. Esse primeiro caso de dezembro foi registrado tempos depois na revista científica The Lancet, embora, na época, ninguém soubesse a dimensão do vírus.
Semanas depois do primeiro caso, ainda em dezembro, o médico Li Wenliang, de Wuhan, começa a reportar a ocorrência de uma nova doença respiratória a seus colegas pelo WeChat. O próprio Wenliang morreria em fevereiro com covid-19.
O médico detectou em alguns pacientes sintomas parecidos com os da Sars (Síndrome respiratória aguda grave), que já era conhecida na China desde os anos 2000, mas dessa vez, a doença era diferente. A covid-19, como viria ser descoberta depois, era causada pelo "novo coronavírus", o Sars-CoV-2, diferente dos vírus conhecidos até então.
Os avisos do médico não receberam grande atenção das autoridades. Em janeiro, Wenliang foi inclusive interrogado e acusado de "espalhar rumores falsos".
A Organização Mundial da Saúde também foi comunicada, mas até essa etapa o entendimento era de que a doença era "controlável". A crise do coronavírus só se tornou pública e sua dimensão só passou a ser realmente compreendida em meados de janeiro de 2020. O próprio Wenliang morreria em fevereiro com covid-19.
Em reportagem divulgada ontem, a TV americana CNN também afirma que, segundo documentos aos quais teve acesso, autoridades chinesas esconderam dados de covid-19 nas primeiras semanas da pandemia, em janeiro e fevereiro. Os documentos não fornecem evidências de uma tentativa deliberada de esconder as descobertas, mas mostram inconsistências nos números que as autoridades forneciam na época.
Àquela altura, a covid já estava se disseminando em alta velocidade. O primeiro caso fora da China foi em 13 de janeiro, na Tailândia, e as primeiras mortes confirmadas viriam no final do mês. Enquanto isso, até o começo de janeiro, a OMS ou as autoridades chinesas não tinham sequer certeza se o vírus era transmitido de pessoa para pessoa, o que foi comprovado ainda naquele mês.
A primeira quarentena foi em 23 de janeiro, em Wuhan, e até o fim do mês mais de 50 milhões de pessoas estavam quarentenadas na China, uma experiência sem precedentes. Depois, viriam as quarentenas e o espalhamento do vírus por todo o mundo. As Olimpíadas seriam adiadas em março, assim como outros eventos.
Os primeiros epicentros fora da China foram na Europa, sobretudo na Itália e na Espanha, a partir de fevereiro. Semanas depois, os casos passaram a aumentar também nos Estados Unidos, sobretudo nos estados da costa leste, como Nova York (o resto do país só seria mais amplamente impacto nos meses seguintes e, agora, nesta "segunda onda" da covid no país).
A doença seria declarada como pandemia pela OMS em 11 de março. Neste momento, já se imaginava que a crise era das mais sérias da história, mas talvez poucos tivessem a dimensão de quanto tempo a pandemia (e as quarentenas decorrentes dela) durariam.
Mais tarde, a partir de julho, o epicentro se tornou o Brasil e a América Latina, começando por grandes cidades como São Paulo. No Brasil, o primeiro paciente foi divulgado em março, mas casos de semanas antes foram encontrados posteriormente.
No Brasil -- que segue sendo o segundo país do mundo com mais mortes --, são mais de 173.000 mortes e 6,3 milhões de casos.
Como acontece desde o começo da pandemia, o número de casos pode ser ainda maior, uma vez que os assintomáticos pode não fazer testes e o Brasil não tem empregado uma política de rastreamento dos infectados (tentando entender, por exemplo, com quem eles se encontraram).
A curva de casos brasileira começou a cair a partir de agosto, o que levou a um processo maior de reabertura do comércio e fim da quarentena. Mas voltou a subir definitivamente neste mês de novembro: pelo menos 12 capitais e cidades do interior apresentam tendência de alta de casos e há cidades com mais de 80% das UTIs lotadas.
Uma "segunda onda" da covid-19 que acomete parte dos EUA e da Europa é uma das grandes preocupações do momento. Países da Europa já voltaram a implementar quarentenas e restrições de mobilidade em alguns lugares. O mundo voltou a registrar neste mês de novembro seu recorde diário de novos casos de covid-19.
A maior esperança da humanidade no momento é o avanço das vacinas contra o coronavírus, que vêm sendo pesquisadas desde o começo do ano. Em um esforço global envolvendo centenas de farmacêuticas e empresas em todo o mundo, uma ou mais vacinas podem ser aprovadas em tempo recorde.
Vacinas como as da Pfizer e da Moderna (com tecnologia inovadora de RNA mensageiro, porém mais caras) já divulgaram resultados de eficácia acima de 90%. Duas das principais esperanças brasileiras na busca por conseguir rapidamente uma vacina são os imunizantes da AstraZeneca com a Universidade de Oxford, testada no Brasil em parceria com Unifesp e Fiocruz, e da farmacêutica chinesa Sinovac, testada com o Instituto Butantan de São Paulo.
Uma das preocupações mundiais é que países ricos obtenham vacinas primeiro e se recuperem mais rapidamente do que países pobres, intensificando as desigualdades globais. Além disso, a preocupação é que não haja, globalmente, vacinas suficientes para todos. Na frente econômica, a pandemia intensificou a pobreza mundial e, se a pandemia ainda demorar a melhorar, países podem ficar sem dinheiro para fazer novos pacotes contra a crise como os feitos neste ano.
Por enquanto, o otimismo com as vacinas é maior do que as preocupações: os resultados de eficácia que vêm sendo divulgados em novembro ajudaram a alimentar o otimismo nos mercados globais, que tiveram recordes sucessivos no mês passado -- o Ibovespa teve seu melhor mês desde 2016.