Estados Unidos e China são os dois maiores emissores do planeta (China Photos/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 30 de novembro de 2010 às 16h47.
Cancún - Os trabalhos de negociação sobre mudanças climáticas, em Cancún, começaram nesta terça-feira com a tentativa de aproximar posições, frequentemente muito distantes, em questões como desmatamento, ajuda financeira a países pobres e redução de emissões de gases estufa, antes da chegada dos ministros, na semana que vem.
O sucesso deste processo, iniciado pelas Nações Unidas na Cúpula da Terra, a ECO-92, está principalmente nas mãos dos Estados Unidos e da China, os dois maiores emissores do planeta.
Ambos somam cerca de 40% do total de emissões de gases de efeito estufa e, por enquanto, se opõem a toda obrigação juridicamente vinculante no que diz respeito à redução.
No entanto, o chefe das negociações americano, Jonathanb Pershing, assegurou que as posições de Washington e Pequim estão se aproximando e destacou que não haverá nenhum tipo de resultado em Cancún se os dois países não chegarem a um acordo.
"Estamos gastando muita energia nos últimos meses para trabalhar sobre nossos pontos de desacordo e tentar resolvê-los. Tenho a impressão de que progredimos", afirmou Pershing, durante entrevista coletiva no início da negociação.
"Acho que só poderemos obter um sucesso aqui (em Cancún) se os nossos dois países chegarem a um acordo", acrescentou.
A posição dos Estados Unidos nestas negociações é delicada, visto que o presidente Barack Obama não conseguiu até agora o objetivo de fixar uma meta de redução até 2020 de 17% com relação aos níveis de emissão de 2005, depois que a lei para impor restrições aos gases considerados os responsáveis pelo aquecimento global fosse rejeitada pelo Congresso.
Esta situação agora é agravada pela vitória republicana nas eleições legislativas de 2 de novembro.
Pequim espera, por sua vez, que a conferência de Cancún "dê frutos reais" em questões chave, afirmou o chefe dos negociadores chineses, Su Wei, citado pela agência Nova China.
Ele fez alusão à redução de emissões, à adaptação aos efeitos do aquecimento global, à transferência de tecnologia e ao financiamento dos países industrializados aos países em desenvolvimento e, sobretudo, ao estabelecimento de bases sólidas para uma futura negociação que consiga, de preferência no ano que vem, em Duban (África do Sul), um acordo internacional legalmente vinculante.
Uma das questões que mais preocupa os países em desenvolvimento é a falta de atenção dada a um eventual segundo período de compromissos sob o Protocolo de Kioto, cuja primeira etapa expira no final de 2012.
Diante da dificuldade de concluir um novo tratado vinculante, estes países insistem em conservar o único instrumento legal existente. No entanto, alguns países industrializados - como Canadá, Austrália e Japão - são contrários a esta opinião.
"O segundo período de compromissos do Protocolo de Kioto é um tema que turva a opinião do grupo dos 77 (países em desenvolvimento)", explicou o negociador chefe brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo. "Se não tivermos uma decisão clara sobre o tema em Cancún, será impossível tomar decisões sobre outros temas", acrescentou.
Os negociadores trabalham a partir de um texto elaborado pela presidência do Grupo de Ação Cooperativa a Longo Prazo (AWG-LCA), que resume os pontos chave que se espera que avancem em Cancún.
No entanto, este documento já recebeu críticas de algumas delegações, como a da Bolívia, que considera que ele "minimiza a necessidade de se adotar um segundo período de compromissos para o Protocolo de Kioto".
Os ecologistas da plataforma CAN (Climate Action Network, rede de ação climática) o criticam pela "falta de alguns elementos cruciais".
"Paradoxalmente, a mitigação (redução de emissões), considerado o elemento mais importante de um acordo climático, parece que não consegue avançar", lamentou, em comunicado.
Instalados no imenso e luxuoso hotel Moon Palace, às margens do Caribe, equipes de negociadores tentarão elaborar "um pacote equilibrado de decisões" para que seja estudado pelos ministros na segunda semana da conferência.
Além dos titulares de Meio Ambiente dos respectivos países, 20 chefes de Estado anunciram sua presença na cúpula mexicana, entre eles seis latino-americanos: os presidentes venezuelano Hugo Chávez, boliviano Evo Morales, colombiano Juan Manuel Santos, costar-riquenho Laura Chinchilla, guatemalteco Alvaro Colon e equatoriano Rafael Correa.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que havia anunciado sua presença, informou na segunda-feira que não irá ao México "devido à pesada agenda interna que precisa cumprir" no Brasil antes de passar a faixa presidencial à sua sucessora, Dilma Rousseff, em 1º de janeiro.