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Da Redação
Publicado em 12 de novembro de 2013 às 14h53.
Filipinas - Devastada, Maria Adelfa Jomerez abandonou os corpos de seus parentes mortos pelo tufão Haiyan. Como ela, muitas vítimas desesperadas querem deixar a todo o custo uma das áreas mais devastadas das Filipinas.
Quatro dias após a passagem de um dos mais poderosos tufões já registrados no planeta, que teria matado pelo menos 10.000 pessoas, as ilhas de Leyte e Lamar, as mais atingidas, continuam em grande parte isoladas do resto do país.
Inúmeras vítimas estão isoladas devido às estradas, pontes e aeroportos inutilizáveis, sem a possibilidade de se comunicar com os seus entes queridos em outras partes do país.
Sem alternativas, muitos tentam a sorte com voos do Exército filipino em Tacloban, a capital de Leyte, que registrou o maior número de vítimas.
Como Maria Adelfa Jomerez, de 58 anos, que decidiu deixar Tacloban para encontrar sua filha em Manila, deixando tudo para trás, incluindo o corpo de seu filho, de sua nora e de seu neto de quatro anos.
Ela deixou o corpo do menino debaixo de uma lona em um hotel que tem servido de necrotério temporário. Os dos pais da criança foram deixados em uma funerária.
"Eu pedi (a eles) para que dessem ao meu filho e sua esposa caixões de verdade, mas disseram-me que seus funcionários não foram trabalhar, e que alguns provavelmente também estavam mortos", explicou a um jornalista da AFP.
"De qualquer maneira, não há veículo para transportá-los para o cemitério(...) Eu gostaria que não fossem enterrados em uma vala comum, mas não posso fazer nada sobre isso".
Como centenas de outros sobreviventes, a única coisa que pode fazer é esperar na chuva no aeroporto de Tacloban em ruínas, na esperança de ser uma das 150 vítimas a finalmente ser evacuada por um avião de transporte militar.
Em frente à multidão, vinte soldados filipinos armados protegem o local para evitar que os sobreviventes corram para as aeronaves que trazem assistência humanitária, equipamentos e jornalistas.
"Cada um por si"
Na fila de candidatos ao êxodo, um grupo de crianças carrega em torno do pescoço uma placa inscrita com "sobrevivente", colocada por funcionários para que tenham prioridade.
Mas há também Jemalyn Lamberto, de 38 anos, cujo marido foi trabalhar no Chipre. Acompanhada de sua filha, sua sobrinha e sua sogra, ela chora em silêncio, ignorando a chuva.
"Disseram-nos para que permanecêssemos em fila e que não deixássemos nossas posições. Mas quando um avião chegou, era cada um por si".
A mãe quer sair da cidade quase destruída para telefonar a seu marido, que não sabe se sua família ainda está viva, mas também para escapar do apocalipse.
"É impossível ficar em Tacloban . Tudo está em ruínas. Os mortos começam a cheirar. Não há nada para comer", explica ela.
Enquanto isso, o medo é palpável em outras partes do país poupadas, mas sem notícias de parentes que viviam nas áreas afetadas.
Dado o crescente número de filipinos que querem deixar as ilhas devastadas pelo ar ou pelo mar, o ministro do Interior, Mar Roxas, advertiu para os riscos que apresentam.
"Eles chegam no aeroporto e só aumentam o problema. Eles pensam que há transporte (mas) não há nada. Então, eles bloqueiam o aeroporto", disse ele.
Mas Elsie Legaspi Damiles, uma dona de casa de 52 anos, não se importa e está desesperada para chegar por via aérea em Leyte, onde sua filha de 28 anos de idade, seu enteado e seus três filhos vivem.
E mesmo sendo informada que não haverá meio de transporte do aeroporto para a cidade de Ormoc, a 50 km de distância, onde sua família vive, ela não se importa. "Eu vou andando, se necessário".