Ponte da Amizade, na fronteira entre Brasil e Paraguai (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 18 de novembro de 2014 às 11h34.
Salto del Guairá - O recente assassinato de um jornalista no Paraguai, o maior reduto de produção de maconha da América do Sul, perto da fronteira com o Brasil, para onde é distribuída a maior parte dessa droga, revelou diversos vínculos entre autoridades e narcotraficantes.
Os moradores dos municípios rurais do departamento de Canindeyú, a 400 quilômetros de Assunção, conhecem por nome e sobrenome os líderes dos principais grupos que operam entre Paraguai e Brasil, mas se calam por temor de represálias.
Canindeyú contém imensos campos de soja, que escondem cerca de sete mil hectares de plantações de maconha, segundo o Governo.
A região é também o principal corredor de cocaína entre Bolívia e Brasil. No município de La Paloma, situado a cerca de 30 quilômetros de Ypehú, onde o jornalista do jornal "ABC Color" Pablo Medina foi assassinado a tiros em 16 de outubro, houve a maior apreensão dessa droga até o momento no Paraguai em 2012.
Cerca de 1,7 tonelada de cocaína foi descoberta em um laboratório situado dentro de uma reserva indígena, junto a quatro aviões. A polícia deteve 19 pessoas de nacionalidade paraguaia, boliviana, brasileira e peruana.
"É o que todos sabem, que há pessoas diretamente relacionadas com a máfia, com proteção política, como de instituições como Polícia, Promotoria e juízes, que têm gente envolvida", disse à Agência Efe o senador do opositor Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), Luis Alberto Wagner, durante uma recente visita à região.
Medina, de 53 anos, realizava coberturas sobre o tráfico de drogas e seus supostos vínculos com alguns políticos locais, após receber várias ameaças, algumas do ex-prefeito foragido Vilmar Acosta, que é acusado pela Promotoria de ser o autor intelectual do crime.
Há ordem de captura internacional contra ele, seu irmão Wilson e seu sobrinho Flavio Acosta, supostos autores materiais do crime, e contra Arnaldo Cabrera.
Os irmãos Acosta também são acusados de narcotráfico depois que a Polícia encontrou um centro de distribuição de maconha em uma propriedade da família.
Medina, que apesar de ter sido ameaçado não contava com escolta policial, perdeu seu irmão Salvador em 2001, quando também foi assassinado pelas denúncias que realizava sobre narcotráfico e corrupção.
Outros dois jornalistas paraguaios foram executados neste ano em departamentos na fronteira com o Brasil.
"O assassino de Salvador foi preso e quando saiu chegou à La Paloma, o mataram para não deixar vestígios", lembrou Wagner.
Segundo o legislador, a máfia impera em toda a zona fronteiriça, com destaque para os municípios da La Paloma, Puente Kyjhá e Katueté como o epicentro das relações entre as redes de narcotraficantes paraguaios e brasileiros com as autoridades regionais.
"Medina já dizia que havia uma proteção política para os delinquentes, essa denúncia é recebida constantemente, ninguém pode dizer que não sabe", espetou.
O jornal "ABC Color" acusou a deputada Cristina Villalba, do governante Partido Colorado, de proteger o prefeito de Ypehú, e o de La Paloma, seu irmão Carlos Villalba. O jornal a classifica como "madrinha" de Vilmar Acosta ou como "rainha do Norte".
O domínio do narcotráfico na região fez com que dos 13 mil moradores que viviam dedicados aos negócios agropecuários, cerca de sete mil foram embora após ser ameaçados ou sofrer assaltos e extorsões, disse Wagner.
Um agricultor que vive na área há mais de 20 anos e que pediu não ser identificado por segurança explicou à Efe que "ninguém se sente tranquilo, pela falta de Justiça e pelo amparo institucional ao narcotráfico".
"Pergunte quem não foi roubado. Pode ser carro, parte de negócios ou terra, todos foram. Todos são expulsos pelas máfias", acrescentou.
O senador considera "muito suspeito" que quase um mês após a morte de Medina a Polícia não tenha chegado aos responsáveis.
"O governo deve mudar, não pode investigar com os mesmos policiais, promotores e juízes que nunca fizeram seu trabalho", lamentou o senador.
"Está claro que não vão investigar seus protegidos", concluiu.