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Naoto Kan deixa governo marcado por críticas e polêmicas

Kan passará para a história como o chefe de governo que teve que enfrentar o maior desastre no Japão desde a Segunda Guerra Mundial

Sua gestão da crise, tachada de nefasta por boa parte do eleitorado, arrastou sua popularidade até níveis mínimos nos últimos meses (Getty Images)

Sua gestão da crise, tachada de nefasta por boa parte do eleitorado, arrastou sua popularidade até níveis mínimos nos últimos meses (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2011 às 11h03.

Tóquio - Naoto Kan, primeiro-ministro japonês durante pouco mais de um ano, deixou nesta sexta-feira seu posto no governo, assediado pelas críticas à sua gestão da catástrofe de 11 de março.

Kan, de 64 anos, passará para a história como o chefe de governo que teve que enfrentar o maior desastre no Japão desde a Segunda Guerra Mundial, com um terremoto e um tsunami que deixaram 20 mil mortos e desaparecidos além da pior crise nuclear em 25 anos.

O que foi o quinto chefe do governo do Japão nos últimos cinco anos chegou ao poder com a exorbitante dívida pública como sua principal missão, mas o devastador tsunami terminou em escantear o programa de um líder que já antes da tragédia tinha seus apoios muito debilitados.

Sua gestão da crise, tachada de nefasta por boa parte do eleitorado, arrastou sua popularidade até níveis mínimos nos últimos meses, embora Kan resistisse com unhas e dentes a deixar o poder até não ver aprovadas três leis fundamentais para a reconstrução, o que finalmente ocorreu nesta sexta-feira.

Nascido em 1946 em uma família de assalariados de Ube (sudoeste do Japão), Naoto Kan se graduou em 1970 no prestigioso Instituto de Tecnologia de Tóquio, onde já mostrou seu compromisso social ao participar de movimentos civis ecologistas e de apoio à mulher.

Nessa mesma década, estreou na política como parte da Federação Socialista Democrata, com a qual conseguiu uma cadeira no Parlamento em 1980 após três tentativas eleitorais fracassadas.

Considerado um político temperamental e persistente, em 1996 foi nomeado ministro da Saúde, uma bolsa desde que enfrentou à pesada burocracia japonesa para combater um escândalo de contágios maciços de HIV a hemofílicos por transfusões de sangue infectado.

Sua postura ganhou adeptos e uma imagem de honestidade com a qual participou, em 1998, na fundação do hoje governante Partido Democrático (PD), do que foi eleito líder.


Desse posto renunciou poucos meses depois pela polêmica sobre uma suposta relação fora do casamento com uma apresentadora de televisão, embora voltasse a ocupá-lo entre 2002 e 2004.

Os apoios no centro do seu partido o permitiram voltar a ocupar sua liderança entre 2002 e 2004, mas esse ano voltou a abandonar o posto por um escândalo sobre a falta de pagamento de suas contribuições ao sistema de previdência.

Talvez abatido por este novo infeliz intromissão de sua vida pessoal na política decidiu, a modo de penitência, raspar o cabelo e iniciar uma peregrinação por templos budistas sagrados de Shikoku (sul do Japão).

A instabilidade em seus cargos não o impediu que continuasse no cenário político e escalasse posições com o PD, consolidado já como um dos homens fortes do partido graças a sua habilidade inata para o debate e para enfrentar situações mais complicadas.

Em junho de 2010, a queda do então primeiro-ministro, Yukio Hatoyama, e do secretário-geral do PD, Ichiro Ozawa, o posicionaram como o sucessor à frente do Governo, que assumiu o dia 8 desse mesmo mês.

Com uma visão pragmática, o novo primeiro-ministro impulsionou um controle exaustivo sobre a política fiscal do Japão e até março trabalhou por uma reforma tributária e da seguridade social para sanear as finanças públicas.

Sua popularidade foi prejudicada por rumores sobre uma possível mudança de Governo quando Japão se viu comovido pelo terremoto que sacudiu o nordeste do país m 11 de março.

A lenta e errônea gestão da crise de Kan, superada pelas circunstâncias, o deixou sem argumentos, sem capacidade de reação e praticamente sem apoios.

Os últimos meses foram um inexorável caminho em direção ao fim de seu mandato, entre pedidos de demissão, críticas por sua inconsistência e tentativas para atenuar o impacto econômico, humano e meio ambiental do desastre de 11 de março.

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