Combatentes do Talibã: grupo proíbe vacinação (HOSHANG HASHIMI/AFP/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 20 de agosto de 2021 às 11h20.
Última atualização em 20 de agosto de 2021 às 11h45.
Desde o último final de semana, quando o Talibã tomou o poder no Afeganistão, a vacinação contra a covid-19 foi suspensa. Agora, há o temor de que o grupo também pare a imunização da poliomelite, doença neurológica causada por um vírus, o poliovírus, que pode levar à paralisia infantil. Nos últimos anos, quando começou a dominar áreas rurais do país, o Talibã proibiu a distribuição da vacina.
Na província de Paktia, no leste do país, uma das primeiras a caírem nas mãos do grupo no último final de semana, os postos de vacinação já foram fechados. Walayat Khan Ahmadzai, diretor provincial de saúde pública da região, disse em entrevista ao portal local de notícias Shamshad News que a enfermaria responsável pela aplicação dos imunizantes foi lacrada no início da semana. A ordem inicial foi relativa à paralisação da vacinação contra a covid-19, mas outras vacinas podem ser incluídas.
O Talibã segue uma ideologia baseada em uma interpretação rígida da sharia, a lei islâmica, e do Alcorão, livro sagrado do islamismo, pregando uma volta a valores do início da Idade Média, quando as escrituras surgiram, e a abolição de princípios associados à cultura ocidental.
De acordo com a Iniciativa Global para a Erradicação da Polio (GPEI), organização sem fins lucrativos apoiada por países e instituições privadas, o fechamento de postos de vacinação e a paralisação da campanha de imunização no Afeganistão estão sendo monitorados.
O Afeganistão e o Paquistão são os dois únicos países do mundo em que a poliomelite permanece endêmica, segundo a GPEI. A entidade havia acabado de lançar um plano para interromper a transmissão do vírus causador da doença em ambos os países até o final de 2023. Agora, a programação no Afeganistão está em suspenso, já que precisa haver uma parceria com o governo local.
Há trinta anos, quando a vacinação contra a poliomelite ainda não havia conquistado os avanços atuais, cerca de 350.000 crianças eram acometidas de paralisia todos os anos, globalmente. Desde então, a doença foi praticamente erradicada no mundo.