Partidárias de Mursi leem jornal: candidato islamita venceu o segundo turno das eleições, por uma estreita margem (©AFP / Patrick Baz)
Da Redação
Publicado em 24 de junho de 2012 às 18h42.
Cairo - Mohammed Mursi conseguiu neste domingo levar a Irmandade Muçulmana à Presidência do Egito, 84 anos depois da fundação do grupo islamita, graças à poderosa estrutura da organização e a sua longa e tenaz oposição ao regime de Hosni Mubarak.
O candidato islamita venceu o segundo turno das eleições, por uma estreita margem, o general reformado Ahmed Shafiq, último primeiro-ministro de Mubarak, anunciou a Comissão Eleitoral.
O órgão eleitoral confirmou o que o próprio Mursi havia comemorado poucas horas depois do fechamento dos colégios eleitorais, no último dia 17, baseando-se em pesquisas de boca de urna de seu partido.
Com isso, os números oficiais acabaram desmentindo Shafiq, que também se proclamou vencedor e desdenhou da atitude dos islamitas, mobilizados nas ruas desde a última terça-feira para cantar vitória e protestar contra a Junta Militar.
Para compensar sua falta de carisma, e tendo a seu favor o fato de o islamismo estar fortemente enraizado neste país conservador, Mursi pediu nos últimos dias a liberais e revolucionários a se unirem para preservar os valores da revolução contra os 'fulul', ou remanescentes do antigo regime.
Presidente do Partido Liberdade e Justiça (PLJ), ligado à Irmandade, Mursi tem como principal credencial uma longa trajetória nesta organização, ilegal por mais de meio século e muito forte nos bairros populares.
Ele sempre inicia seus discursos com a 'fatiha', a fórmula que abre o Corão, e com a qual ressalta a importância e solidez de um testemunho.
Mursi também faz contínuas referências à 'sharia' (lei islâmica) e a seu projeto de 'nahda', um renascimento islâmico que abranja todos os âmbitos, para o Egito.
De maneiras simples, este homem tímido de baixa estatura, que não esconde suas raízes rurais, entrou na corrida presidencial após a desqualificação do primeiro candidato da Irmandade Muçulmana, Khairat al Shater, inabilitado por já ter sido preso.
Geralmente bem-humorados, os egípcios não demoraram em comparar Mursi com Shater e em apelidar o primeiro como 'candidato estepe'.
Nascido em 20 de agosto de 1951 em uma família de classe média no povoado de Al Adwa, no delta do Nilo, Mursi desenvolveu uma carreira de destaque dentro da Irmandade, que levou em paralelo à de engenheiro.
Entre 1985 e 2010, foi chefe do departamento de Engenharia da Universidade de Zagazig, aonde retornou após ter trabalhado durante três anos como professor universitário no estado da Califórnia (EUA).
No final dos anos 70, começou a se sentir atraído pela ideologia da Irmandade Muçulmana e, em 1979, filiou-se ao grupo, onde iniciou seu trabalho no departamento religioso.
Pouco a pouco ele foi escalando postos até que, em 1995, se tornou membro de seu Conselho Consultivo, o principal órgão de decisão da Irmandade.
De 1995 até 2005, foi deputado no Parlamento e uma espécie de porta-voz da Irmandade Muçulmana na Câmara, já que durante o regime de Mubarak a organização era ilegal e apresentava seus candidatos como independentes.
Em 2005, Mursi perdeu seu assento e, um ano depois, ficou preso por seis meses por apoiar as manifestações de juízes reformistas que denunciaram uma fraude no pleito presidencial.
Considerado um militante ativo, esteve muito envolvido em seu projeto político, como em 2007, quando ajudou na elaboração do programa do grupo que defendia que a Presidência da República só podia ser exercida por um muçulmano.
Durante a revolta que derrubou Mubarak, em fevereiro de 2011, foi detido na prisão de Wadi Natrun, ao norte do Cairo, mas saiu dois dias depois graças ao caos nos presídios após a debandada dos agentes penitenciários.
Em 30 de abril de 2011, Mursi renunciou a seu posto no Conselho Consultivo da Irmandade para ser o presidente da legenda política ligada ao grupo, o PLJ.
Ser membro da cúpula da organização foi um de seus trunfos, mas também pode ser um de seus pontos fracos, já que alguns setores temem que ele seja mais obediente ao guia supremo da Irmandade, Mohammed Badia, do que ao povo que o elegeu. EFE