O presidente do Egito, Mohamed Mursi: na prática, a decisão de Mursi impede qualquer ação perante a justiça contra suas decisões (Khaled Desouki/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de novembro de 2012 às 12h35.
Cairo - O presidente do Egito, Mohamed Mursi, se reúne nesta segunda-feira com o Conselho Supremo de Justiça para tentar resolver a crise mais grave desde sua eleição, na véspera de manifestações rivais de partidários e adversários dos plenos poderes de Estado que se autoconcedeu.
Embora o presidente tenha reiterado que estas medidas eram provisórias, o ministro da Justiça, Ahmed Mekki, sugeriu que Mursi estava disposto a restringir o âmbito de suas decisões que escapam a qualquer recurso perante a justiça para acalmar a rebelião dos magistrados e a raiva da oposição.
Pequenos grupos de opositores de Mursi passaram novamente a noite na Praça Tahrir do Cairo, onde deste sexta-feira barracas são montadas.
"Proibido à Irmandade Muçulmana", a organização islamita da qual Mursi surgiu, proclamava um cartaz perto da praça, na entrada de uma rua onde nos últimos dias foram registrados confrontos entre policiais e manifestantes.
Para terça-feira foram convocadas grandes manifestações. A oposição laica e liberal se reunirá na Praça Tahrir, local emblemático da revolta que provocou a queda do ex-presidente Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011. Os islamitas decidiram se reunir perto da Universidade do Cairo, no bairro de Guizeh, na outra margem do Nilo.
A crise foi desencadeada pelo anúncio na quinta-feira de que Mursi se atribuía poderes reforçados, que, na prática, impedem qualquer ação perante a justiça contra suas decisões.
O presidente também concedeu a si mesmo o direito de tomar todas as decisões que considerar necessárias para "a defesa da revolução", uma formulação vaga que, segundo seus adversários, abre caminho para um desvio ditatorial.
Mursi também decidiu que a Alta Corte Constitucional já não poderá examinar os recursos contra a comissão responsável por redigir a futura Constituição, apresentados por muitos opositores que denunciam esta comissão, dominada pelos islamitas.
Esta decisão provocou muitas manifestações dos dois setores em todo o país, às vezes violentas. No domingo, um jovem islamita foi assassinado perante um escritório da Irmandade Muçulmana em Damanhur (delta do Nilo). Muitas sedes deste poderoso grupo também foram atacadas nos últimos dias.
Um dos defensores do setor laico e liberal, Mohamed Elbaradei, exigiu novamente nesta segunda-feira "a retirada pura e simples" destas medidas. "Estamos diante de um presidente que impôs uma ditadura", insistiu em uma entrevista concedida ao jornal independente al Masry al-Yum.
"Não me surpreenderia se o exército saísse novamente às ruas para impedir o caos e proteger a pátria", acrescentou, referindo-se ao fato de que o exército tomou o poder após a queda de Mubarak, antes de devolvê-lo após a eleição a Mursi.
Já o ministro da Justiça sugeriu que um compromisso poderia ser discutido durante um encontro na tarde desta segunda-feira entre Mursi e o Conselho Supremo da Justiça.
Mekki se referiu à introdução de uma "emenda", informando que "as decisões irrevogáveis do presidente envolvem apenas as questões que se referem aos poderes soberanos do presidente, e não às decisões administrativas".