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Mundo da moda britânico declara guerra ao Brexit

A hostilidade quase unânime ao Brexit ilustra a reação eufórica dos setores culturais e os temores de uma indústria dependente do comércio internacional

Camiseta Cancele o Brexit: modelo veste a camiseta da Katharine Hamnett.  Venda da peça deve ir para fundo que pede novo referendo (site da Katharine Hamnett/Divulgação)

Camiseta Cancele o Brexit: modelo veste a camiseta da Katharine Hamnett. Venda da peça deve ir para fundo que pede novo referendo (site da Katharine Hamnett/Divulgação)

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AFP

Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 15h16.

"CANCELEM O BREXIT", diz a mensagem inscrita em uma camiseta da estilista britânica Katharine Hamnett.

A saída do Reino Unido da União Europeia, prevista para daqui a seis semanas, está desesperando estilistas e complica sua vida profissional e cotidiana.

"Foi uma reação espontânea" ao resultado do referendo de 23 de junho de 2016, diz Katharine Hamnett à AFP, antes da abertura da Semana de Moda de Londres. A criadora se refere a esta camiseta, à venda na internet, que faz parte de uma coleção que inclui outros slogans, como "A moda odeia o Brexit" e "Segundo referendo, já!".

Mas por que tanto rechaço? Porque o Brexit será "uma catástrofe para a economia, o social, a cultura, a educação, o emprego, a segurança e a defesa", diz a estilista, preocupa com os desenlaces deste divórcio histórico, em 29 de março.

E Katharine Hamnett não é a única: segundo pesquisa do gabinete Fashion Roundtable, 96% dos profissionais do setor votaram para o Reino Unido se manter no bloco europeu.

Esta hostilidade quase unânime ao Brexit ilustra a reação eurófila dos setores culturais britânicos, mas também os temores de uma indústria dependente do comércio internacional.

Medo do 'no deal'

Como outros setores da economia britânica, a moda teme um Brexit sem acordo com Bruxelas, um "no deal" que submeteria as relações econômicas entre UE e Reino Unido às regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), menos vantajosas que o atual dispositivo baseado na livre-circulação de bens.

Segundo esta hipótese, "haveria um risco de aumento das tarifas aduaneiras sobre mercadorias" e sua "circulação poderia diminuir", destaca Samantha Dover, do gabinete de pesquisa Mintel.

Essa perspectiva é ruim para os criadores que precisam de flexibilidade para trabalhar com Paris ou Milão, ou apenas para exportar sua produção ao Velho Continente.

Peso-pesado da moda britânica, a Burberry estimou os custos ligados ao aumento de tarifas aduaneiras em "dezenas de milhões" de libras ao ano, ao apresentar seus últimos resultados.

Mas "não há apenas dificuldades técnicas", garante Lulu Kennedy, diretora da Fashion East, berçário de talentos. "Também é a mensagem (que o Brexit transmite): a ideia de que os britânicos não queremos trabalhar com os demais, que não fazemos parte da família europeia".

"A qualquer preço"

Nessas circunstâncias, não é de se estranhar que o British Fashion Council (BFC), organizador da Semana de Moda de Londres, adote uma postura claramente favorável a um novo referendo, para impedir uma ruptura com a UE sem acordo - um cenário a ser evitado "a qualquer preço".

Diante desses riscos, alguns já começaram a reorganizar suas atividades, se deslocando para países da UE, para poder conservar as vantagens do mercado único e da união aduaneira.

"Tomamos medidas (...) muito rapidamente, de forma que todo o desenvolvimento, a fabricação e a logística de nossos produtos agora estão na Itália", conclui Hamnett.

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