Capitólio, sede do Congresso dos EUA: o medo é que caso os políticos americanos não consigam pôr fim ao problema, os mercados financeiros sejam afetados e surja uma recessão (Kevin Lamarque/Reuters)
Da Redação
Publicado em 15 de outubro de 2013 às 11h54.
Washington - Os líderes das finanças de países com mais de US$ 1,3 trilhão em títulos do Tesouro americano não deram sinais de planejar vendê-los mesmo após os EUA terem enfrentado a condenação pelo impasse fiscal, que está afetando a maior economia do mundo.
Os responsáveis pelas políticas econômicas do Japão, da Índia, da Rússia e da Arábia Saudita expressaram confiança na capacidade dos EUA de pagar suas contas. O potencial default dominou as reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, concluídas ontem em Washington.
“A única solução é que o próprio governo e o Congresso americano resolvam o problema”, declarou o Ministro da Fazenda do Japão, Taro Aso, em uma entrevista a Sara Eisen, da Bloomberg Television. Fahad Almubarak, presidente do Banco Central da Arábia Saudita, afirmou aos jornalistas que “a atual crise dos EUA terminará e acreditamos que seus efeitos sobre os nossos investimentos não serão duradouros”.
A combinação de críticas e de confiança foi refletida pelo presidente da Pacific Investment Management Co., Mohamed El-Erian, quem afirmou que a gestora do maior fundo de títulos do mundo continuará possuindo títulos do Tesouro de curto prazo, já que espera que os legisladores aumentarão o limite de endividamento do país, de US$ 16,7 trilhões.
“Na hora do aperto, haverá um acordo”, comentou El-Erian numa conferência do setor financeiro durante a reunião do FMI. Um default “desencadearia falhas” nos mercados de garantias e “seria um grande golpe à economia”, opinou El-Erian.
O Secretário do Tesouro, Jacob J. Lew, aproveitou a presença de seus colegas estrangeiros para destacar os riscos da inércia, afirmando que os EUA são “a âncora do sistema financeiro internacional e que seus ativos têm status de refúgio”.
“Os Estados Unidos não podem dar por certa essa reputação obtida com tanto esforço”, disse Lew ao comitê diretivo do FMI.
Tal reputação pode estar intacta. Embora os títulos do Tesouro tenham se tornado “ligeiramente menos atrativos”, o presidente do Banco de Reserva da Índia, Raghuram Rajan, afirmou que “não venderemos os nossos ativos americanos e os manteremos”. Almubarak, da Arábia Saudita, o maior exportador mundial de petróleo, afirmou que “somos investidores de longo prazo” e “a nossa visão de longo prazo é positiva”.
Investimento no longo prazo
“Nosso investimento nos títulos do Tesouro americano é de longo prazo, portanto não acredito que haja muita necessidade de grandes revisões sobre como investimos as nossas reservas”, disse o Ministro da Fazenda da Rússia, Anton Siluanov, aos jornalistas. “Espero que o que está acontecendo hoje seja um problema no curto prazo”.
O medo, expressado por funcionários e banqueiros de todo o mundo, é que caso os políticos americanos não consigam pôr fim ao problema, os mercados financeiros sejam afetados e surja uma recessão. Dita preocupação foi refletida no apelo do G-20 para que os EUA tomem “medidas urgentes para enfrentar incertezas fiscais no curto prazo”.
Mercados emergentes
A situação dos mercados emergentes foi o outro principal tópico de debate. O Ministro da Fazenda da Alemanha, Wolfgang Schäuble, afirmou que “os riscos se desviaram” em sua direção. O FMI prevê que neste ano os países em desenvolvimento estejam a caminho do seu pior crescimento desde 2009, quando ajudaram a resgatar o mundo da recessão.
A preocupação dessas economias é que a Reserva Federal e outros Bancos Centrais importantes retirem seus estímulos monetários muito rapidamente, provocando um êxodo de capitais e aumentando os custos de tomar empréstimos.
O presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, afirmou que se o Fed estiver respondendo a um fortalecimento da expansão, então se trataria finalmente da melhor notícia.
“Se o Fed conseguir fortalecer a economia americana, isso beneficiará todo o mundo”, disse Carstens em uma entrevista.