Mulheres na Arábia Saudita: Histórico evento mostrou que há pequenos avanços para elas (Fayez Nureldine / AFP/AFP)
EFE
Publicado em 13 de janeiro de 2018 às 10h38.
Riad - As mulheres sauditas conseguiram pela primeira vez torcer das arquibancadas de um estádio de futebol por seus clubes na Arábia Saudita, um histórico evento em um momento em que há pequenos avanços para elas, apesar de o reino ultraconservador continuar limitando suas liberdades.
"Meu pai costumava me dizer que chegaria o dia em que eu gritaria das arquibancadas", afirmou à Agência Efe Afnan, de 28 anos e uma das espectadoras da partida entre Al Ahli e Al Baten, realizada ontem à noite na cidade de Jidá, no oeste do país.
"E esse dia chegou. A previsão do meu pai se cumpriu", contou com emoção a saudita, que foi ao estádio acompanhada justamente do pai.
Ainda que nas arquibancadas chamadas "seções familiares" Afnan pôde sentar-se junto ao seu pai, muitas mulheres não puderam acompanhar o jogo com os homens, pois esta nova medida as obriga a sentar-se nessas arquibancadas especiais, separadas por barreiras da multidão masculina.
Apesar destas restrições, Afnan e cerca de outras 1.200 mulheres torceram com vestimentas coloridas, esquecendo o rigoroso preto que prevalece na sociedade saudita, e gritaram no estádio King Abdullah Sports City o nome de cada jogador dos dois clubes, especialmente do Al Ahli, que venceu o Al Baten por 5 a 0 no jogo válido pela Supertaça Saudita.
"Durante anos me sentia triste a cada vez que havia uma partida e o meu pai ia com os meus irmãos ao estádio, e eu só podia ver o jogo pela televisão", lembrou a jovem, torcedora do Al Ahli, que se queixou também que, quando seu clube ganhou o campeonato local em 2016, não pôde comemorar com seus familiares homens.
Agora, registrou esse momento com numerosas fotos em frente ao estádio e como lembrança foi junto a outras mulheres à loja de souvenirs do Al Ahli.
Apesar de o reino ultraconservador fixar uma estrita separação pública entre homens e mulheres, bem como algumas regras para elas - ainda seguem propensas a um sistema de tutoria do homem - ditadas com base nas tradições e uma versão extremista da religião, a Arábia Saudita está começando a mudar e aplicar pequenos avanços para elas.
Todos estes esforços foram promovidos, sobretudo, desde a nomeação no ano passado de Mohammad bin Salman, de 32 anos, príncipe herdeiro à coroa saudita, que influenciou na aprovação de uma das medidas mais importantes para as mulheres e que será aplicada a partir de junho deste ano: a suspensão da proibição de dirigir.
Foi no final de outubro que as autoridades sauditas anunciaram que as mulheres poderiam assistir aos jogos de futebol nos estádios públicos de Jidá, da capital, Riad, e Dammam.
Apesar desta decisão histórica, Mohamed al Barakat, o responsável de relações públicas do estádio Al Yawara, de Jidá, destacou à Efe que "a administração do estádio fixou duas portas separadas (para homens e mulheres) e um corredor separado que conduz às arquibancadas "da seção familiar, que tem uma capacidade de 10.000 assentos.
Al Barakat ressaltou que o estádio foi modificado para que as mulheres tenham seu próprio lugar, banhos privados, bem como um muro na parte dianteira das arquibancadas com o fim de evitar que os menores possam cair.
Em sua conta oficial do Twitter, a princesa Reema Bint Bandar, subsecretária da Autoridade Geral para o Esporte saudita, celebrou o avanço: "Obrigado a todos pelo constante apoio. Hoje levamos a felicidade a cada família e mulher saudita pela sua presença pela primeira vez em um jogo. É um momento histórico no reino".
A porta-voz da embaixada dos Estados Unidos em Riad, Fatima S. Baeshen, escreveu no seu perfil da rede social que isto vai além dos direitos da mulher, já que os jogos do Al Ahli e do Al Baten, e os que se seguirão, são uma "oportunidade para as famílias de vir juntas e desfrutar do esporte nacional da Arábia Saudita".
No último dia 23 de setembro as mulheres puderam assistir pela primeira vez às comemorações do Dia Nacional da Arábia Saudita, no estádio internacional do Rei Fahd, em Riad, em uma área reservada para as famílias, em um teste para ver a reação do povo saudita.
Já em 2015 e 2016, o reino fez outro teste, dessa vez em Londres, onde foi realizado um jogo da Supertaça Saudita.
Centenas de mulheres sauditas assistiram ao primeiro jogo entre duas equipes do país do Golfo sem estar no país e as emissoras de televisão sauditas, que transmitiram estas partidas, se concentraram mais nas arquibancadas onde encontravam-se as mulheres que no campo.