Manifestantes em Hong Kong: mulheres que participam dos protestos pela democracia relataram casos de agressão e assédio sexual (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 4 de outubro de 2014 às 12h35.
São Paulo - Mulheres que participaram nas manifestações pró-democracia em Hong Kong foram vítimas de agressões sexuais e assédio, denunciaram neste sábado manifestantes e a Anistia Internacional.
A ONG acusou policiais de faltar com seu dever de proteger os manifestantes na noite de sexta-feira, afirmando que os agentes não fizeram nada quando supostos membros da Tríada (máfia chinesa) atacaram os ativistas nos bairros de Mongkok e Causeway Bay.
"Mulheres e meninas foram alvos de agressões sexuais, assédio e intimidação", assinalou a AI.
A polícia informou que está averiguando as acusações, enquanto que o ministro de Segurança de Hong Kong negou enfaticamente que o governo tenha recorrido à Tríada para agir contra os manifestantes.
Ele também informou que 19 pessoas foram detidas depois das manifestações de sexta-feira.
A situação continua tensa nas três zonas ocupadas pelos manifestantes na ex-colônia britânica, onde os dirigentes do movimento convocaram uma nova concentração para este sábado.
Os manifestantes reforçaram as barricadas por temer que se repitam os confrontos da véspera.
Na sexta-feira, os líderes estudantis do protesto anunciaram a suspensão do diálogo com o governo após os incidentes registrados em seus pontos de concentração.
Os participantes do movimento consideraram que os episódios se devem a provocações orquestradas pelas autoridades.
Em vários locais ocupados há uma semana, moradores e comerciantes atacaram os manifestantes, em sua maioria estudantes que exigem a instauração do sufrágio universal e eleições para o governo local sem a ingerência de Pequim.
Em Causeway Bay e Mong Kok, vários grupos tentaram derrubar barricadas em uma aparente reação contra as manifestações, que paralisaram várias áreas, sem que as forças de segurança tenham agido para impedir, constatou a AFP.
Durante horas, os dois lados trocaram socos e insultos. Os serviços de saúde atenderam várias pessoas com ferimentos no rosto, mas a polícia se negou a informar o número de feridos e detidos.
Os líderes estudantis acusaram o governo de recrutar homens para provocar confusões e desacreditar este movimento que mobilizou desde domingo dezenas de milhares de pessoas e paralisou grande parte da região administrativa chinesa.
O movimento pró-democracia exige a renúncia do chefe do executivo local, Leung Chun-yuing, considerado um fantoche de Pequim. A China aceita o princípio de eleições por sufrágio universal, mas conservando o controle das candidaturas.
Os estudantes, na linha de frente do movimento, estabeleceram deram até a noite de quinta-feira para que Leung renuncie. Mas o chefe de governo local se negou deixar o seu posto, propondo uma oferta de diálogo.
Hong Kong, ex-colônia britânica, enfrenta a sua maior crise política desde a devolução à China, em 1997.
A "revolução dos guarda-chuvas", como é chamada nas redes sociais, tem uma grande repercussão no exterior, onde houve concentrações de apoio em vários países.
Mas submetida a fortes pressões midiáticas e diplomáticas, a China fez um alerta a Washington para que não se envolva na crise política. Já a União Europeia manifestou preocupação na quinta-feira.
O Partido Comunista Chinês intensificou a censura nas redes sociais e deteve pelo menos dez dissidentes, que expressaram apoio aos manifestantes de Hong Kong, de acordo com associações de defesa dos direitos humanos.