Em 2016, americanas organizaram a "Marcha das Mulheres" um dia após a posse do presidente Donald Trump (Andrew Lichtenstein/Getty Images)
AFP
Publicado em 31 de outubro de 2018 às 11h33.
Mobilizadas contra ou a favor de Donald Trump, estimuladas pelo movimento #MeToo ou indignadas com a indicação para a Suprema Corte de Brett Kavanaugh, as mulheres serão fundamentais nas eleições legislativas dos Estados Unidos, na hora do voto e também como candidatas.
"Há três anos eu era apenas uma eleitora. Agora sou uma eleitora que também organiza atos a favor do voto, sou uma pessoa que participa de campanhas de porta em porta para as eleições de 6 de novembro", afirmou à AFP Barbra Bearden, uma democrata de 37 anos.
"Eu não fazia nada disso antes de Trump", admite a consultora especializada em desenvolvimento, que decidiu organizar uma campanha telefônica de sua casa em Washington para estimular as mulheres em todo país a votar.
A iniciativa "Call Your Sister" (Ligue para sua irmã) foi criada pelos organizadores da Marcha pelas Mulheres, que levou mais de um milhão de pessoas às ruas depois que Trump assumiu a presidência em janeiro de 2017.
Estas eleições, as primeiras desde que o empresário bilionário chegou à Casa Branca, são "realmente cruciais", disse Bearden.
Na votação, os americanos devem eleger os 435 membros da Câmara de Representantes e quase um terço dos 100 integrantes do Senado.
As eleições de meio de mandato colocam em jogo quase todo o equilíbrio de poder em Washington e os democratas almejam recuperar a maioria para poder aplicar, no Congresso, um freio à agenda política do presidente republicano.
Mas uma mudança desta magnitude é impossível sem as mulheres.
"As eleitoras são mais fluídas, mais disponíveis para flutuar entre os dois partidos", explica Steven Schier, cientista político do Carleton College de Minnesota.
Nesta eleição, o eleitorado têm uma grande variedade de candidatas. Cientistas, veteranas de guerra, advogadas, empresárias e donas de casa. O número de mulheres na disputa é recorde: 198 democratas e 59 republicanas.
Atualmente as mulheres ocupam 20% das cadeiras no Congresso.
Nas cédulas de votação, as minorias também estão representadas. Várias candidatas são figuras carismáticas que ganharam repercussão nacional, como a democrata Alexandria Ocasio-Cortez, que aos 29 anos venceu um político veterano nas primárias com propostas mais à esquerda que a linha tradicional de seu partido.
No momento, entusiasmo do eleitorado feminino beneficia os democratas.
Alisha Johnson e Nicole Archambeau não se conhecem, mas as duas moram no distrito de St. Paul em Minnesota, um reduto chave dos republicanos onde o candidato democrata trava uma disputa lado a lado na eleição.
As duas participam de eventos escolares no bairro de Mendota Heights e têm um perfil sociológico muito cobiçado: as mães dos subúrbios.
Este segmento é formado em sua maioria por mulheres brancas, com estudos e de classe média. Apesar do apoio aos republicanos nos últimos anos, há indícios de que esta faixa de eleitoras estaria se distanciando do partido e de Trump.
Johnson, uma executiva de uma cooperativa de crédito de 52 anos, que se identifica como republicana, afirmou, no entanto, que seguirá votando no partido.
Trump falou de "mudança", explicou Johnson. "Eu vi um impacto positivo na economia e na educação", completou, antes de afirmar que nem sempre concorda com o que ele diz.
Archambeau, uma professora de 48 anos, que tem quatro filhos, está determinada a votar nos democratas.
"Com Trump não se trata apenas de diferenças em nossas posturas políticas, mas também a nível moral", explicou a mulher que resumiu sua postura com uma frase: "Ele não é um bom exemplo".
Os candidatos democratas ao Congresso têm sete pontos de vantagem sobre os rivais republicanos, de acordo com uma compilação de pesquisas do portal RealClearPolitics.
A indignação provocada pela confirmação de Brett Kavanaugh como juiz da Suprema Corte, acusado de agressão sexual em um caso que incluiu uma comovente audiência no Congresso da mulher que o denunciou, pode ter um papel importante nestas eleições.
Mas as eleitoras republicanas que apoiam a nomeação para um posto que pode ser fundamental em temas como o aborto também podem ser motivadas pelo caso.
A senadora democrata Mazie Hirono espera uma mudança.
"Minha esperança é que as mulheres deste país continuem mobilizadas", afirmou à AFP Hirono, a primeira senadora pelo estado do Havaí.
"Há muita energia, muito entusiasmo", declarou a senadora por Michigan Debbie Stabenow. "As mulheres estão cansadas de divisão", completou.