Inflação em alta: As expectativas de mercado para o IPCA em 2011 estão no limite do teto da meta perseguida pelo Banco Central, que é de 6,5% e, com a alta do dólar, as previsões são de mais aumento nos preços (Alexandre Battibugli/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 28 de novembro de 2011 às 21h02.
Durban - As tempestades e secas que provocaram altas perigosas no preços dos alimentos há poucos anos podem ter sido um "presságio terrível" do que nos espera quando as mudanças climáticas se manifestarem com mais violência, alertou a organização de caridade britânica Oxfam esta segunda-feira.
Em um relatório publicado no início das negociações climáticas da ONU em Durban, na África do Sul, a Oxfam mencionou picos nos preços de trigo, milho e sorgo, provocados por extremos climáticos, que arrastaram dezenas de milhões para a pobreza nos últimos 18 meses.
"Isto só vai piorar à medida que as mudanças climáticas avançarem e a agricultura sentir os efeitos do calor", afirmou Kelly Dent, da Oxfam.
"Quando um evento climático causa picos nos preços locais ou regionais, os pobres costumam sofrer um duplo impacto", acrescentou.
"Eles têm que enfrentar a carestia dos alimentos em um momento em que os extremos climáticos também podem ter matado seus animais, destruído seus lares ou fazendas ou acabado com seu sustento", explicou.
"Essa mistura tóxica de preços mais altos e menor poder de compra arrastou muitas pessoas para a crise este ano", afirmou Dent.
"Se não agirmos em Durban, este padrão pode, inclusive, piorar", concluiu.
Em 2010, uma onda de calor na Rússia e na Ucrânia fez os preços internacionais de trigo dispararem de 60% a 80% entre julho e setembro.
Em abril de 2011, os preços do trigo estavam 85% mais altos nos mercados internacionais do que no ano anterior, informou a Oxfam.
Em julho, os preços do sorgo estavam 393% mais altos na Somália, enquanto o milho encareceu 191% na Etiópia e 161% no Quênia em comparação com a média dos últimos cinco anos, refletindo o impacto da seca no Cifre da África.
Enquanto isso, tempestades e tufões no sudeste da Ásia fizeram disparar os preços do arroz na Tailândia e no Vietnã. Em setembro e outubro, o custo desta importante commodity estava entre 25% e 30% mais elevado do que um ano antes.
Uma grande seca no Afeganistão ajudou a elevar em 79% os preços do trigo e da farinha de trigo no país em julho com relação ao ano anterior.
Em fevereiro, o Banco Mundial (Bird) calculou que 44 milhões de pessoas dos países em desenvolvimento haviam entrado na pobreza extrema como resultado da espiral dos preços dos alimentos.
Na edição de novembro de seu Relatório de Preços dos Alimentos, o Bird informou que o índice global do custo alimentar havia alcançado um pico em fevereiro, caindo 5% desde então.
Mesmo assim, o índice ainda estava 19% maior do que em setembro de 2010, embora a cifra varie muito segundo o país e a commodity, destacou.
De acordo com a Oxfam, a alta dos preços foi causa de desespero para os necessitados.
"Para os mais pobres que gastam até 75% de seu salário com comida, um aumento no preços dos alimentos nesta escala pode ter consequências, uma vez que as famílias são forçadas a fazer barganhas na tentativa desesperada de se alimentar", acrescentou.
A organização apontou para uma pesquisa recém-publicada pelo painel de cientistas climáticos da ONU (IPCC), segundo o qual o aquecimento global provocado pelo homem já provocou ondas de calor e chuvas causadoras de inundações e corria o risco de contribuir para futuras catástrofes.
"Eventos climáticos mais frequentes e extremos vão piorar as coisas, provocando escassez, desestabilizando mercados e precipitando aumento de preços, que serão sentidos no topo das altas estruturais dos custos previstas pelos modelos", acrescentou a Oxfam.
A organização apelou à conferência da Convenção-quadro da ONU para Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês) para cortar as emissões de gases de efeito estufa e ativar um fundo para ajudar os países pobres.
Uma meta da cúpula em Durban é dar vida ao "Fundo Verde Climático" que, em 2020, destinará até US$ 100 bilhões ao ano para países com maior risco de sofrer os efeitos das mudanças climáticas. Mas a aprovação deste tem sido contida por disputas sobre o desenho deste fundo.