Mahatma Gandhi: mensagens expostas são datadas das primeiras décadas do século XX (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de fevereiro de 2013 às 10h30.
Nova Délhi - Os Arquivos Nacionais da Índia inauguraram nesta quarta-feira uma mostra inédita que revela uma parte das cartas trocadas entre Mahatma Gandhi e o arquiteto alemão Hermann Kallenbach - que, segundo algumas versões, era mais do que um grande amigo do líder pacifista.
A exibição conta com uma pequena parte de uma ampla coleção que em sua maioria continua oculta aos olhos do público, mas cuja recente e surpreendente compra pelo governo indiano despertou especulações polêmicas sobre uma relação amorosa entre os dois.
O lote completo é composto por 1.500 cartas, mas na exposição - cuja inauguração coincide com o 65º aniversário do assassinato de Gandhi, em 30 de janeiro de 1948 em Nova Délhi, pelo extremista hindu Nathuram Godse -, são mostradas apenas 80.
Destas, apenas seis têm a assinatura de Gandhi, e nenhuma esclarece de maneira determinante a natureza de seu vínculo com Kallenbach.
As mensagens expostas são datadas das primeiras décadas do século XX, e refletem o desejo dos dois remetentes de se reencontrar após terem se conhecido em 1904 na África do Sul, onde conviveram na Fazenda Tolstoi, próxima a Johanesburgo.
Fã de ginástica, Kallenbach iniciou nessa fazenda uma comunidade vegetariana e pacifista que despertou o interesse de Gandhi, que após deixar em 1914 o país africano não voltou a ver seu amigo até 1937, quando este viajou à Índia.
Nos 23 anos de hiato eles mantiveram contato através de cartas em inglês que manifestam sua cumplicidade e se despediam com a palavra 'Amor'.
Porém, mais que essa linguagem, são as circunstâncias nas quais o Estado indiano adquiriu no ano passado a coleção ao israelense Issa Ben Sarid - descendente de Kallenbach, de origem judaica -, o que levou a relação entre os dois personagens a voltar à tona.
A embaixada indiana em Israel alertou em agosto que Ben Sarid negociava a venda do lote à casa Sothebys de leilões. O governo indiano entrou inesperadamente na negociação com uma oferta de US$ 1,1 milhão e fechou negócio com uma rapidez que, segundo especialistas, não é frequente no mercado.
'Sei o que se diz e sei o que se pensa, mas o que posso dizer é que no material que está expõsto não há nada que induza a se pensar em uma relação homossexual entre os dois', afirmou à Agência Efe Rajesh Verma, especialista dos Arquivos Nacionais da Índia e que admitiu que não leu os outros 1.420 documentos do lote.
A suposta relação amorosa entre Gandhi e Kallembach foi revelada em 2011 pelo prêmio Pulitzer Joseph Lelyveld, que no livro 'Mahatma Gandhi e Sua Luta Com a Índia' citava entrevistas e testemunhos que apontavam nesse sentido.
Em sua obra, Joseph Lelyveld se remetia a uma comunicação escrita - que não se sabe se consta na parte oculta do lote vendido por Issa Ben Sarid e adquirido pelo Estado indiano -, na qual Gandhi diz a Kallenbach que 'tomaste posse do meu corpo'.
Lelyveld também reproduziu o parecer do historiador Tridip Suhrur, para quem não há dúvida de que 'eram um casal'.
Publicado em 2012 em inglês, o livro foi bem recebido pela elite que domina esse idioma na Índia, país no qual apenas cogitar a possível homossexualidade do líder pacifista é quase uma heresia.
Essa é a postura defendida por um dos curadores da mostra, M. Rajmani, que destacou a importância da exposição 'para conhecer melhor o Mahatma', mas negou plenamente que Gandhi tenha tido uma relação sentimental com Kallenbach.
'Não houve nada de homossexualidade entre eles', sentenciou.
Em declarações à Efe, Rajmani não descartou que no futuro sejam exibidas mais cartas da coleção, porém disse que 'levará tempo, porque a letra do Mahatma era difícil, e os documentos devem ser transcritos para que sejam inteligíveis ao grande público'.
E concluiu; 'Gandhi e Kallenbach se gostavam muito, mas como homens, e isso não significa que entre eles houvesse algo mais, não?'.