(Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Vanessa Barbosa
Publicado em 9 de agosto de 2018 às 16h24.
Última atualização em 9 de agosto de 2018 às 16h30.
São Paulo - As autoridades de Porto Rico, nos Estados Unidos, admitiram que mais de 1400 pessoas podem ter morrido em decorrência da passagem do furacão Maria, que devastou a ilha em setembro do ano passado. Na ocasião, os números oficiais falavam em 64 mortos. A nova estimativa é mais de 20 vezes superior ao anteriormente divulgado.
O novo saldo, de 1427 mortes, foi divulgado em um relatório que o governo porto-riquenho enviou ao congresso norte-americano para propor um plano de recuperação para a região de 139 bilhões de dólares.
Mas o que explica essa diferença gritante? Segundo o relatório, ao qual o jornal The New York Times teve acesso, a maior parte das mortes ocorreram por uma série de falhas sistêmicas na esteira do furacão e não diretamente por conta do fenômeno em si (como no caso de mortes causadas por desmoronamento de estruturas ou inundações).
O furacão deixou Porto Rico em situação insalubre e muita gente morreu por efeitos secundários da devastação.
Nas semanas e meses seguintes ao furacão Maria, faltava de tudo no arquipélago: alimentos, água potável, medicamentos e artigos de higiene pessoal. Assistência para a recuperação chegava pouco a pouco, devido às dificuldades logísticas - só era possível acessar a região de barco ou avião.
O furacão destruiu quase todas os sistemas de comunicação e de transmissão de energia, mergulhando praticamente todo o país na escuridão. Por tabela, a falta de energia elétrica lançou o sistema de saúde no caos.
Lotados, os hospitais operavam com ajuda de geradores, dependentes de combustível que a qualquer momento podia acabar.
Muitas pessoas morreram devido à dificuldade de acessar hospitais ou à ausência de energia para manter máquinas de apoio vital funcionando.
Os dados atualizados sobre as vítimas do furacão derivam de um estudo feito por pesquisadores da Universidade Penn State e publicado no começo do mês no Jornal da Associação Médica Americana.
“Quando a área é inundada e fica sem energia, esse não é um ambiente seguro para uma avó em diálise. Não é seguro para alguém ter um ataque de asma e precisar de tratamento. Essencialmente, é isso que estamos tentando resolver. Não apenas as pessoas que se afogaram ou morreram em deslizamentos de terra, mas também as pessoas que morreram porque não tinham acesso a tratamentos para necessidades básicas”, dizem os pesquisadores em comunicado da entidade.
Para estimar o número de mortes por efeitos secundários, os pesquisadores analisaram os registros de óbitos nos meses seguintes à passagem do furacão. Para os cientistas, esse tipo de estatística (que considera mortes por efeitos secundários) pode ajudar os governos a se prepararem melhor para responder a futuros desastres climáticos, a partir da reformulação de protocolos, políticas e processos de gerenciamento de emergências.