O ex-presidente paraguaio fernando Lugo: para que o Paraguai saia do limbo, o bloco determinou como condição aguardar o resultado das novas eleições, pois não reconhece o governo de Federico Franco (©AFP / Norberto Duarte)
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2013 às 21h06.
Montevidéu - A morte de Hugo Chávez e sua sucessão acrescentaram uma nova dúvida ao presente complexo do Mercosul, que vive sua maior crise institucional após a suspensão de um de seus fundadores, o Paraguai, no ano passado, o que precisamente permitiu o ingresso da Venezuela.
Duas décadas após sua fundação, o bloco formado por Argentina, Brasil, Uruguai, Venezuela e Paraguai não só deve resolver essa complicada situação, mas também responder os constantes questionamentos de sua viabilidade, muitos deles internos.
Na opinião do analista uruguaio Ignacio Zuasnábar, diretor da empresa de consultoria Equipes Mori, com o falecimento de Chávez "o Mercosul encara um processo de incerteza bastante grande" e "o momento de maior fraqueza institucional do bloco desde a sua origem".
O governo uruguaio, que exerce a Presidência rotativa pro tempore da organização desde dezembro, informou hoje que, apesar de a recente entrada da Venezuela no bloco ser "legítima e irreversível", sua permanência "dependerá apenas da vontade dos venezuelanos".
Assim afirmou em declarações à Agência Efe o vice-chanceler uruguaio, Roberto Conde, ao detalhar, por exemplo, que na definição da data da Cúpula presidencial semestral do bloco que acontecerá em seu país em meados deste ano "é preciso ver agora qual vai a ser o calendário eleitoral da Venezuela".
"É um elemento novo que devemos levar em conta", afirmou Conde, que, pessoalmente, mostrou sua esperança de que a votação seja "uma confirmação do processo bolivariano" e que não haja "mudanças dramáticas", como "uma deserção da Venezuela".
Em sua opinião, "só um cenário de vitória contundente da oposição venezuelana poderia reverter esse processo".
Zuasnábar, por outro lado, acredita que, aconteça o que acontecer nessas eleições, o futuro da Venezuela dentro do grupo será "embaralhar e distribuir as cartas de novo".
O analista acredita que nenhum de seus eventuais sucessores, como o atual vice-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, líder nas pesquisas realizadas antes da morte de Chávez, conta com os "vínculos pessoais" e a "sintonia" que o falecido governante alcançou com seus colegas regionais.
Com relação à manobra de suspensão do Paraguai para facilitar a entrada da Venezuela no bloco em junho de 2012, o vice-chanceler Conde ratificou a postura de Argentina, Brasil e Uruguai de que aquele polêmico processo foi "legítimo".
"Para nós, o Paraguai (um dos quatro fundadores do grupo em 1991) não estava em exercício do seu direito de voto quando foi decidido o ingresso da Venezuela", afirmou.
Paradoxalmente, a aceitação do novo membro estava travada há alguns anos, pois o Congresso paraguaio se negava a ratificá-la.
A solução chegou com a suspensão do Paraguai, justificada pelo impeachment do presidente Fernando Lugo, aliado de Chávez, em um julgamento político no Legislativo paraguaio, o que Argentina, Brasil e Uruguai qualificaram como um "golpe de Estado parlamentar".
Para que o Paraguai saia do limbo no qual se encontra, o bloco determinou como condição aguardar o resultado das novas eleições no próximo mês de abril, pois não reconhece o governo de Federico Franco, o vice-presidente que sucedeu Lugo.
A todas estas dificuldades de caráter político se somam as de cunho comercial, das quais se referiu o presidente José Mujica na semana passada ao destacar a suposta falta de rumo do bloco, embora o líder uruguaio seja um grande defensor da integração regional.
Em seu programa semanal de rádio, Mujica afirmou que, "mais que um mercado comum", o bloco é "uma união aduaneira ruim" com "crescentes dificuldades no comércio entre seus membros".