Haider Al-Abadi: primeiro-ministro busca governo de união no Iraque (Ahmed Saad/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de agosto de 2014 às 16h27.
Bagdá/Mossul - Pelo menos 70 sunitas morreram nesta sexta-feira em um ataque perpetrado por milicianos xiitas contra uma mesquita sunita na província oriental de Diyala, um grave incidente sectário que já ganhou grandes repercussões políticas no Iraque.
Este ataque vem à tona em um momento delicado, tendo em vista que o primeiro-ministro designado, Haider al Abadi, tenta formar governo de união e atrair sunitas e curdos para lutar contra os jihadistas do grupo radical Estado Islâmico (EI).
Neste aspecto, a resposta dos sunitas não demorou a chegar. O movimento Diyala é Nossa Identidade, liderado pelo novo presidente do parlamento, Salim al Jabouri, e a Coalizão Al Arabiya se retiraram das consultas realizadas perante a formação do novo governo.
Ambos os blocos, que contam com 15 deputados, condicionaram sua participação no novo governo a uma resposta aos autores do ataque, os quais, segundo eles, devem ser apresentados perante a Justiça em 48 horas, além de uma indenização aos familiares das vitimas.
O ataque teve como alvo a mesquita de Musaab bin Omair, situada na cidade de Bin Wais, coincidindo com a grande reza do meio-dia da sexta-feira.
Além dos grupos políticos sunitas, também testemunhas elevaram a 70 o número de falecidos, mas fontes oficiais e de segurança rebaixaram este número a uma trintena de pessoas ou inclusive menos.
Um ativista sunita, citando testemunhas próximas, explicou à Agência Efe que os milicianos xiitas ligados ao Exército lançaram vários projéteis antes de abrir fogo de forma indiscriminada contra os presentes.
Depois do massacre, os milicianos ainda teriam permanecido no local por cerca de 30 minutos, impedindo que os feridos fossem levados aos hospitais, informou o ativista da rede Grande Revolução Iraquiana.
Moradores da região disseram que o ataque está relacionado a uma possível vingança pela explosão de várias bombas contra voluntários xiitas, ação que resultou na morte de seis pessoas.
No entanto, um porta-voz do Ministério do Interior revelou à Efe que, antes dessas explosões, um tiroteio entre homens armados e milicianos xiitas foi registrado nessa mesma região.
As pressões levaram às Forças Armadas iraquianas a anunciar a formação de uma comissão de "alto nível" para investigar o fato, como a Anistia Internacional havia pedido, entre outros órgãos.
O Iraque é palco de um conflito armado, com caráter sectário, desde junho passado, quando o EI - apoiado por outros grupos sunitas - lançou uma ofensiva no norte do país, assumiu o controle da cidade de Mossul (a segunda maior do país) e proclamou um califado islâmico entre o Iraque e a Síria.
O respaldo de certos grupos sunitas ao EI, pelo menos a princípio, se deve às políticas sectárias e excludentes articuladas pelo primeiro-ministro demissionário, Nouri al-Maliki.
A União das Forças Nacionais, que engloba a maioria dos grupos sunitas, atribuiu hoje o aumento da violência no Iraque a Maliki e às forças de segurança.
"As milícias criminosas gozam da proteção de algumas formações políticas, e as forças de segurança não intervêm nestes ataques", criticou a União em sua nota.
A violenta repressão dos protestos organizados pelos sunitas para denunciar a discriminação que dizem sofrer também já desencadeou episódios de extrema violência nos últimos anos.
Um dos redutos dos extremistas do EI é a província de Ninawa, que agora é alvo de bombardeios americanos e de operações das forças curdas, também conhecidas como "peshmergas".
Em um ataque aéreo efetuado hoje pelo menos 35 combatentes jihadistas foram mortos nos arredores da cidade de Nahia, a 22 quilômetros ao noroeste de Mossul, capital de Ninawa e em mãos do EI.
O dirigente do Partido Democrático do Curdistão, Muhialdin al Masuri, explicou à Efe que o bombardeio americano alcançou um comboio composto por sete veículos.
Desde o último dia 8 de agosto, os EUA já realizaram 93 ataques aéreos em todo Iraque, 60 deles em apoio às forças iraquianas nos arredores de Mossul.
Os "peshmergas" atacam Nahia, Tilkif e Wana, e também avançam em direção à cidade de Samar e ao sul de Ninawa, também ao oeste de Mossul.
Além disso, o Exército iraquiano também lançou hoje panfletos sobre Mossul, os quais pediam a colaboração cidadã para expulsar os jihadistas e poderiam evidenciar uma iminente operação militar.
Por conta dos combates e da repressão exercida pelo EI nas zonas sob seu controle, os deslocados em direção à região autônoma do Curdistão iraquiano chegam a 700 mil, segundo os dados divulgados hoje pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).