O presidente da Bolívia, Evo Morales: o presidente boliviano fecha o ano com um apoio popular de 59%, 11 pontos a mais que há seis meses, segundo o instituto Ipsos (©AFP/Archivo / ernesto benavides)
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2012 às 16h55.
La Paz - O presidente da Bolívia, Evo Morales, completa seu sétimo ano de governo com a estabilidade econômica e a redução da pobreza como pontos fortes, mas com a sombra de ser o primeiro governante em 30 anos de democracia a processar veículos de imprensa.
Esta disputa se soma aos confrontos que Morales mantém no plano internacional com os Estados Unidos, país que acusa de conspiração, e com o Chile, ao qual reivindica uma saída ao Pacífico, já que a Bolívia perdeu seu litoral marítimo em uma guerra com esse país no fim do século XIX.
Em 2012, o melhor ano econômico da Bolívia em sua história, graças ao aumento nos preços das matérias-primas, permitiu manter os números macroeconômicas positivos e um reconhecimento internacional que melhorou sua imagem.
Um sinal da confiança externa foi o retorno da Bolívia em outubro, após cem anos, às bolsas de valores com o leilão de bônus a dez anos por US$ 500 milhões. Outro foi o aumento dos investimentos estrangeiros diretos, que no primeiro semestre foi de US$ 577 milhões, 53% a mais que no mesmo período do ano anterior.
O Produto Interno Bruto chegou a US$ 26 bilhões, quase o triplo dos US$ 9,5 bilhões de 2005, um ano antes da chegada de Morales ao poder, enquanto a extrema pobreza caiu de 45% em 2000 para 24% em 2011, segundo o Banco Central.
No entanto, analistas e empresários sustentam que os fundos poderiam ter sido melhor administrados para garantir um desenvolvimento sustentável a médio e longo prazo.
A oposição vai além e acusa o Executivo de "mal utilizar" os US$ 54 bilhões gerados pela Bolívia nos últimos anos e de não ter conseguido ainda industrializar a riqueza natural em mineração e hidrocarbonetos.
Neste ano, Morales também manteve sua política de nacionalizações, concretizada na desapropriação da Transportadora de Eletricidade, da Red Eléctrica da Espanha, e de duas empresas mineradoras, filiais de companhias de Suíça e Canadá, sem que até agora tenham sido feitos acordos sobre as indenizações.
Uma das "sombras" da gestão de Morales é o que os analistas consideram uma política de "amedrontamento" da imprensa, após as denúncias penais do governante contra dois jornais e uma agência de notícias por suposta incitação ao racismo contra ele.
Trata-se do primeiro processo penal de um chefe de Governo boliviano contra a imprensa em 30 anos de democracia na Bolívia, um caso que as associações profissionais consideram que provoca uma autocensura entre os informadores, o que reduz as vozes críticas contra Morales.
Além disso, a minoritária oposição se fragmentou e denuncia que não pode exercer seu papel fiscalizador por estar perseguida politicamente por juízes e promotores.
Como exemplo, o caso do senador opositor Roger Pinto, asilado há seis meses na embaixada do Brasil em La Paz sem que o governo lhe conceda o salvo-conduto para deixar a Bolívia.
Outra sombra é a do aumento do narcotráfico em um ano no qual as autoridades deram informações contraditórias sobre a presença dos cartéis internacionais no país.
A primeira redução de cultivos de folhas de coca em cinco anos não foi suficiente para frear os alertas feitos pela Igreja Católica sobre o aumento do narcotráfico.
A luta contra a corrupção foi outro tema de batalha de Morales, que recentemente se declarou magoado após a descoberta de uma rede de advogados governamentais que extorquia detidos e pressionava juízes e promotores.
Este foi também o ano da derrota do movimento contestatário do Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), que voltou a protestar - inutilmente - entre a Amazônia e La Paz contra o projeto de construção de uma estrada que dividirá essa reserva natural.
Este conflito pode comprometer o futuro no poder do primeiro presidente indígena da Bolívia em relação a um eventual terceiro mandato consecutivo, hipótese proibida pela Constituição e que o próprio líder não confirmou se tem essa intenção.
O presidente boliviano fecha o ano com um apoio popular de 59%, 11 pontos a mais que há seis meses, segundo o instituto Ipsos.