O presidente da Bolívia, Evo Morales: apreensão a respeito de espionagem norte-americana (REUTERS/David Mercado)
Da Redação
Publicado em 13 de julho de 2013 às 16h17.
La Paz - O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou neste sábado que agentes de inteligência dos Estados Unidos têm acesso aos e-mails das 'autoridades máximas' de seu país, mas revelou que ele mesmo não usa esse tipo de comunicação.
'Descobrimos que agentes de inteligência dos Estados Unidos têm acesso aos e-mails de nossas máximas autoridades', disse Morales em um discurso em uma cidade andina.
A informação sobre o suposto acesso aos e-mails das autoridades bolivianas, segundo Morales, foi obtida na sexta-feira 'graças a alguns amigos presidentes', com os quais se reuniu na cúpula semestral do Mercosul, realizada em Montevidéu.
'Eu, antes de ser presidente tinha e-mail. Alguns irmãos me recomendaram 'Evo, não use isso' e fechei, escutei suas palavras, felizmente', disse o líder em seu discurso.
O governante também afirmou que os Estados Unidos gastam todos os anos US$ 75 bilhões em inteligência e para ilustrar o tamanho desse número para sua audiência de camponeses e indígenas, comparou o orçamento das agências de inteligência com os US$ 14 bilhões que a Bolívia tem no total de reservas em divisa estrangeira no Banco Central.
'Sabem o quanto gastam com inteligência? A cada ano gastam US$ 75 bilhões para monitorarem todos, para grampear os telefones', disse Morales, que, além disso, comparou esses gastos com espionagem com a pobreza que, segundo sua opinião, persiste nos EUA.
Morales também falou sobre o caso Edward Snowden e sobre o apoio que obteve do Mercosul pela 'ofensa' que sofreu na semana passada quando quatro países europeus, segundo denunciou, fecharam seus espaços aéreos durante o retorno de seu avião presidencial a La Paz, que saiu de Moscou, pela suspeita de que o ex-técnico da CIA estava a bordo da aeronave.
Os chefes de Estado e de governo do Mercosul encerraram a cúpula em Montevidéu com uma declaração na qual reprovaram a suposta espionagem dos EUA na região e a 'ofensa' a Morales.
Os países do Mercosul também concordaram em pedir consultas aos seus embaixadores na Espanha, França, Itália e Portugal para que informem sobre as decisões que forçaram o pouso do avião de Morales em Viena no dia 2 de julho.
O líder acrescentou que debateu com seus colegas do Mercosul sobre a suposta espionagem, o controle e o acompanhamento feito pelos EUA, não só aos 'governos anti-imperialistas', mas também aos seus aliados.
Morales disse que está convencido que a espionagem americana serve para justificar as intervenções com o propósito de dominar países para exercer o controle sobre seus recursos naturais.
Também considerou que Snowden não cometeu 'nenhum crime' porque fez as denúncias sobre o programa de espionagem dos EUA para 'o bem da humanidade'.
O líder boliviano acrescentou que os Estados Unidos fazem 'ameaças' aos países que, como a Bolívia, ofereceram asilo ao ex-técnico, mas ressaltou que Washington não tem moral para fazer críticas porque o território americano 'é uma caverna de delinquentes'.
Nesse sentido, citou o caso de Luis Posada Carriles, requerido pela Venezuela, que pediu sua extradição em 2005 aos EUA para que responda perante a Justiça pela explosão de um avião da empresa Cubana de Aviación em 1976 com 73 pessoas a bordo.
Também o caso do ex-presidente boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada (1993-1997 e 2002-2003), acusado na Bolívia em um julgamento por um suposto genocídio, mas que vive nos Estados Unidos, país que não respondeu ao pedido de extradição de La Paz. EFE