O governo boliviano reivindica que a folha, em seu estado natural, não é uma droga, e que é mastigada há séculos por camponeses, indígenas e mineradores (Spencer Platt/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2012 às 21h41.
La Paz - O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou nesta sexta-feira que viajará para Viena neste final de semana para defender na segunda-feira, em reunião antinarcóticos da ONU, a mastigação da folha de coca, matéria-prima para a produção de cocaína.
O governante disse em entrevista coletiva no povoado de Coroico, a 96 quilômetros de La Paz, que viajará com seu ministro da Defesa, Ruben Saavedra, e voltará na terça-feira.
Morales continua sendo o principal dirigente dos sindicatos de produtores de coca da Bolívia, cargo que manteve após chegar à presidência em 2006, e discursará na sessão inaugural da Comissão de Entorpecentes da ONU, que avaliará a luta mundial contra as drogas.
O líder anunciou em 2011 a retirada da Bolívia da Convenção Única sobre Entorpecentes da ONU de 1961, argumentando que esta veta a mastigação da folha de coca (segundo a ONU por conter alcaloides que servem para fabricar a cocaína).
O governo boliviano reivindica que a folha, em seu estado natural, não é uma droga, e que é mastigada há séculos por camponeses, indígenas e mineradores.
A Bolívia propôs à ONU uma readmissão na Convenção, mas com uma ressalva sobre a coca, estratégia que foi criticada por parte da oposição boliviana e por esse organismo e que será submetida à consulta entre os 184 países-membros.
Morales disse que a Bolívia não propõe que a coca saia da lista de entorpecentes da ONU, mas que apenas reconheça seu direito a permitir sua mastigação, que segundo o governo é habitual para a maioria da população.
No entanto, um estudo feito há uma década pelo Centro Latino-Americano de Pesquisa Científica (Celin) estabeleceu que apenas 14% da população boliviana mastiga a folha de coca.
O diretor do Celin, Franklin Alcaraz, disse à Agência Efe que seus estudos indicam que só são necessários oito mil hectares para cobrir a mastigação e outros usos lícitos na Bolívia, mas já em 2010 os cultivos eram quatro vezes superiores.
Por outro lado, Morales argumenta que não é lógico que a mastigação da coca siga penalizada em nível internacional quando em alguns estados norte-americanos é possível comprar cocaína com receita médica.