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Moradores relatam massacre em cidade síria

Nas últimas seis semanas, a cidade sunita Deraa emergiu como um centro de rebeldia contra o governo autocrático de Assad e sua família da minoria alauíta

Protestos na Síria (AFP)

Protestos na Síria (AFP)

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Da Redação

Publicado em 22 de junho de 2014 às 13h37.

Amã - Moradores da cidade de Deraa, berço dos protestos pró-democracia que varrem a Síria, apresentaram na segunda-feira um relato horripilante a respeito de um ataque realizado por forças de segurança usando tanques, artilharia pesada e metralhadoras.

Em meio aos bombardeios, a eletricidade e a maioria das linhas telefônicas foram cortadas, e soldados ocuparam mesquitas e outros locais importantes, segundo os moradores.

Correspondentes estrangeiros estão sendo mantidos afastados da Síria, de modo que os relatos não puderam ser verificados. Mas moradores ouvidos por telefone apresentaram um quadro consistente sobre a impiedosa tentativa do governo de subjugar a cidade pela força militar.

Um ativista disse que pelo menos 18 pessoas foram mortas por tiros e por bombardeios de tanques, ampliando o sombrio saldo de um mês de rebelião contra o presidente Bashar al-Assad, período em que pelo menos 350 pessoas morreram, segundo grupos de direitos humanos.

"Unidades do Exército estão bombardeando Deraa neste momento. Parece não haver fim para os sons de metralhadoras pesadas e morteiros ocasionais", disse o morador Abu Salem, várias horas depois da invasão dos tanques durante a madrugada.

Outra testemunha contou ter visto corpos numa rua perto da mesquita Omari, após oito tanques e dois veículos blindados se instalarem no bairro antigo. Uma nuvem de fumaça negra pairava sobre a cidade.

A maioria dos moradores procurou refúgio no interior, mas alguns grupos de jovens desafiadores, gritando "abaixo Bashar", fizeram um jogo de gato e rato com os soldados que faziam uma patrulha a pé. Um jogo perigoso, diga-se de passagem.

"Em qualquer lugar que eles encontram pessoas saindo às ruas, eles atacam com munição pesada", afirmou outro morador.

Deraa, que em seu apogeu foi uma parada na ferrovia Hijaz construída durante o domínio otomano um século atrás, tornou-se conhecida mais recentemente como um centro de recrutamento de quadros do partido governista Baath e de agentes da polícia secreta.

Nas últimas seis semanas, a cidade sunita emergiu como um centro de rebeldia contra o governo autocrático de Assad e sua família da minoria alauíta.

Horas antes de as tropas invadirem o centro da cidade e a zona antiga, cerca de 2.000 pessoas se reuniram na velha mesquita Omari, foco de protestos quase diários.

Sucessivos líderes comunitários criticaram o que chamaram de "desumanidade e criminalidade" das forças de segurança durante a recente repressão, e fizeram um apelo para que a revolta popular pacífica contra Assad se espalhe, segundo moradores.

Abu Salem disse que, após a chegada dos tanques e soldados, o eco dos disparos sufocou o chamado das mesquitas para as orações. "Eles ocuparam várias mesquitas, inclusive a Omari e a Xeque Abdul Aziz, para garantir que nem voluntários ou imãs poderiam usar os minaretes para pedir (doações de) sangue ou chamar médicos para ajudar os feridos", acrescentou.

Ele relatou ainda que dezenas de tanques e veículos blindados ocuparam posições no centro histórico e nas principais praças do bairro comercial de Mahatta.

"Eles estacionaram seus tanques até nos jardins públicos, e as patrulhas parecem ter ordens para atirar no ato."

Testemunhas descreveram como francoatiradores vestidos de preto tomaram posições no alto de edifícios públicos.

"É aterrorizante e mostra que as autoridades não pouparão ninguém para subjugar as pessoas e acabar com nossa resistência e anseio por liberdade", disse uma testemunha.

Questionado sobre se os moradores estavam reagindo -- Deraa é uma região onde há fortes tradições tribais de vingança --, Abu Salem disse que até segunda-feira a maioria dos moradores vinha resistindo aos apelos para vingar as dezenas de mortes.

"Pessoas indefesas não podem só ficar olhando enquanto são abatidas. Praticamente não há nenhuma família que agora não tenha um mártir", afirmou.

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