Etanol: governo ainda não tem elementos técnicos para determinar o aumento de 20 para 25 por cento da mistura de etanol à gasolina (Manoel Marques/VEJA)
Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2012 às 19h20.
São Paulo - Um aumento na mistura de etanol anidro na gasolina no Brasil, que está sendo avaliado pelo governo, esbarra no momento em incertezas sobre a disponibilidade de etanol e em preocupações relacionadas a custos.
Com a safra 2012/13 do centro-sul bastante atrasada na comparação com a anterior por causa das chuvas --até o final de junho, a moagem de cana acumulava uma queda de 28 por cento ante o mesmo período da temporada 2011/12--, faltam dados para se definir o tamanho da produção de etanol até o final da temporada.
O governo ainda não tem elementos técnicos para determinar o aumento de 20 para 25 por cento da mistura de etanol à gasolina. Até outubro do ano passado, vigorava aquele percentual maior, mas com a escassez de cana, houve uma redução para o nível atual.
"O cenário agora não sugere, pelo abastecimento, que se aumente a mistura. Não vai trazer vantagens", disse uma fonte do governo, que pediu para não ser identificada.
A fonte citou o atraso na safra do centro-sul, confirmado nesta quinta-feira pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) , e a consequente redução na oferta do biococombustível --a produção de etanol acumula uma queda na safra, de abril até o final de junho, de 32 por cento.
O assunto da mistura voltou à tona após o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ter dito na segunda-feira que a mistura pode subir se a produção de cana permitir.
Já a Unica, em um comentário enviado à Reuters, afirma que "está concluindo um levantamento junto aos produtores para finalizar um relatório para o governo mostrando até onde é possível ampliar a produção de etanol e permitir um aumento na mistura de etanol na gasolina".
Segundo Arnaldo Corrêa, diretor da Archer Consulting, empresa de gestão de riscos especializada em commodities agrícolas, um aumento da mistura seria "bem-vindo", mas um dos empecilhos para a medida é a falta de planejamento do próprio governo.
Isso porque várias empresas, buscando vendas mais remuneradoras, fecharam muitos negócios de etanol para exportação, o que tende a reduzir a oferta interna.
"Se tivesse sido feito um planejamento, poderia ter sido feito sem problemas... Se der o aumento da mistura agora... pode haver um problema, não quer dizer que vai acontecer, pois não se sabe o que empresas têm nos livros...", avaliou o analista.
Preços - O aumento da mistura seria bom para as indústrias de cana, porque melhoraria o preço do etanol anidro por meio do aumento da demanda, tornando eventualmente vendas no mercado interno mais interessantes do que as exportações.
Mas é justamente a questão dos preços que preocupa o governo.
Se por um lado o aumento da mistura reduziria o preço da gasolina, por outro poderia haver uma alta na cotação do etanol hidratado, já que numa safra com oferta apertada haveria uma redução da produção do combustível usado diretamente nos carros flex. Isso ocorreria por conta de um aumento da fabricação do anidro (misturado à gasolina).
No entanto, alguns especialistas avaliam que o impacto nos preços não é relevante, e que uma mistura maior beneficiará toda a indústria, as distribuidoras e também a Petrobras.
Segundo sócio-diretor da Job Consultoria, Júlio Maria Borges, considerando que o preço do etanol hidratado na bomba já está no limite do valor em que compensa utilizar o biocombustível, em vez da gasolina, não haveria risco de um aumento dos custos para os consumidores.
"Se mudar o preço do hidratado, o efeito será mínimo, hoje dois terços do Brasil já não usa álcool (hidratado)... Agora, para o produtor (usina) é importante a mistura maior, mais remunerado, ele pode investir, o adubo da produção é preço", disse Borges.
"O consumidor não vai ter nenhum prejuízo sensível, porque o preço na bomba (do hidratado) já está no limite dos 70 por cento do valor da gasolina", disse, referindo-se ao fato de que além desse percentual, é mais vantagem abastecer com gasolina.
O consultor lembra ainda que, pelas condições da safra atual, não haveria mesmo possibilidade de o setor atender à toda demanda por hidratado. "O que estamos discutindo é se vai atender mais ou menos", destacando que uma mistura maior beneficiaria também a Petrobras, o que eventualmente reduziria a necessidade de novos reajustes de combustíveis.
Apesar de aumento recente na gasolina, a estatal ainda vende o produto com defasagem em relação ao mercado internacional, e pode voltar a acumular prejuízos, sem um novo reajuste. Uma mistura maior de etanol na gasolina aliviaria o caixa da estatal.
"As contas com importação de gasolina são o maior impacto na lucratividade da empresa. Uma redução de 5 por cento nessas importações aliviariam", disse Lucas Brendler, analista da corretora Geração Futura.