Hugo Chávez: no hospital militar de Caracas, onde se diz que está internado no nono andar, militares guardam o recinto e tratam de evitar que jornalistas e curiosos penetrem no andar. (AFP)
Da Redação
Publicado em 21 de fevereiro de 2013 às 17h39.
Apesar de ter retornado de Cuba, o mistério que cerca o presidente Hugo Chávez se mantém tão impenetrável quanto antes, o que aumenta a insegurança entre os venezuelanos, muito atentos a tudo o que acontece no hospital militar onde ele está internado.
Chávez "está tão invisível como em Cuba", disse à AFP o analista político Ángel Álvarez. "Evidentemente não quer ser visto, se quisesse ou pudesse, ele se mostraria", acrescentou o professor de Ciências Políticas da Universidade Central da Venezuela (UCV).
Se esta situação se prolongar, a ausência do dirigente reforçará o desconcerto dos venezuelanos, adverte Álvarez.
"Os seus seguidores tinham a ilusão de que voltaria para governar (...) Se não se reincorporar em um breve lapso vai gerar em seus próprios seguidores uma decepção", afirmou.
Desde segunda-feira, quando voltou a Caracas pondo fim ao período em que esteve convalescente durante mais de dois meses em Cuba, o governo não revelou nada sobre seu estado de saúde nem divulgou nenhuma evidência gráfica de sua presença no país.
O presidente boliviano, Evo Morales, que viajou a Caracas na terça-feira especialmente para visitar seu mentor e amigo, admitiu que não pôde vê-lo porque estava "repousando", e que apenas falou com seus médicos e familiares.
Por trás do sigilo "há elementos de segurança e de saúde", estimou o cientista político Nícmer Evans.
"Essa concepção anti-paparazzi é importante porque estamos falando da recuperação da saúde de um ser humano", disse à AFP o professor da UCV.
O sigilo com que tem sido tratado o assunto foi denunciado pela oposição, que exige mais transparência sobre a saúde de Chávez.
"O mistério que envolve a situação do presidente Chávez não parece diminuir com seu retorno à pátria, pelo contrário (...) Agora tão perto e tão longe a coisa é mais opaca, e de certo modo, mais intrigante", escreveu em editorial o jornal opositor Tal Cual.
O retorno era um segredo bem guardado entre sua família e seus colaboradores mais próximos como o vice-presidente, Nicolás Maduro, e o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.
"Chávez nos surpreendeu", admitiu Aristóbulo Istúriz, alto dirigente do governista Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV) e governador de Anzóategui no nordeste do país.
Para Alvarez, inclusive a forma que regressou foi inédita: "É surpreendente e incomum essa entrada de Chávez de forma sigilosa e sem nenhuma evidência de sua presença física (...) Contrasta com o estilo Chávez, cheio de fanfarra e pompa", afirmou.
Na madrugada de segunda-feira, Chávez deixou o mundo atônito ao anunciar no Twitter que havia voltado ao seu país para continuar o tratamento contra o câncer, que o acomete desde 2011 e o obrigou a submeter-se em dezembro a uma quarta operação em Cuba, onde se tratou quase exclusivamente da doença.
Desde a sua operação no dia 11 de dezembro em Havana, o governo recém divulgou imagens suas na última sexta-feira, que aparecia sorridente na cama do hospital junto a suas duas filhas mais velhas.
Desde que Chávez anunciou em junho de 2011 que estava doente de câncer, o governo não divulgou nenhum parecer médico. Mas desde a última operação, foi informado através de seus dirigentes sobre a evolução do presidente, que permaneceu sob medidas estritas de segurança em Havana.
No hospital militar de Caracas, onde se diz que está internado no nono andar, militares guardam o recinto e tratam de evitar que jornalistas e curiosos penetrem no andar, apesar de nem sempre com êxito. A imprensa local recolhe depoimentos de empregados do hospital que, em geral garantem, não saber absolutamente nada e que não viram o presidente.
Maduro pediu aos simpatizantes chavistas que respeitem o perímetro do hospital, após dezenas de simpatizantes terem se reunido no primeiro dia com faixas e fotografias do dirigente.
Para além de sua saúde, o debate público se centra na adiada posse de Chávez, reeleito em outubro.
Segundo Evans, o governo pode estar preparando algum pronunciamento sobre o futuro de Chávez "como se vai continuar (no poder) ou renunciar". Neste último caso, a Constituição prevê a convocação de eleições em 30 dias, que Maduro seria o candidato do governo, conforme previsto pelo presidente.