Mundo

Misrata: mil mortos e 3 mil feridos desde o início do conflito

Segundo o adminstrador de um hospital da cidade, 80% das vítimas são civis

Médico atende vítima de atirador em Misrata: apenas no domingo, 17 morreram na região (Odd Andersen/AFP)

Médico atende vítima de atirador em Misrata: apenas no domingo, 17 morreram na região (Odd Andersen/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 18 de abril de 2011 às 14h31.

MIsrata, Líbia - Os combates na cidade de Misrata deixaram 1.000 mortos e 3.000 feridos desde o fim de fevereiro, informou nesta segunda-feira a direção do hospital da cidade sitiada pelas forças governamentais. Também nesta segunda-feira, a ONU voltou a pedir um cessar-fogo.

"No total, 80% dos mortos são civis", declarou o administrador do hospital, o médico Khaled Abu Falgha.

De acordo com Falgha, apenas no domingo morreram 17 pessoas e outras 71 ficaram feridas na cidade, que fica 200 km ao leste de Trípoli.

O médico afirmou que desde a semana passada foram internados pacientes com ferimentos graves provocados por bombas de fragmentação, armas que estão proibidas.

Os rebeldes acusam as tropas leais ao regime de Muamar Kadhafi de utilizar tais bombas, o que Trípoli nega. Saif al-Islam Kadhafi, filho de Kadhafi, negou que o regime tenha cometido qualquer crime contra o povo.

Enviados da ONU se reuniram com o primeiro-ministro líbio em Trípoli e exigiram que o regime de Kadhafi cesse os ataques contra Misrata.

O emissário da ONU para a Líbia, Abdul Ilah Al-Khatib, e a coordenadora de assistência humanitária Valerie Amos se encontraram no domingo em Trípoli com o premier líbio Mahmud Al-Baghdadi e com o chanceler Abdel Ati Al-Obeidi.

"Ambos reiteraram a enérgica condenação da comunidade internacional pelo uso da força contra civis da Líbia e exigiram que as autoridades líbias interrompam imediatamente os ataques militares em todo o país, especialmente em Misrata", disse o porta-voz da ONU, Farhan Haq.


A Organização Internacional para as Imigrações (OIM) retirou nesta segunda-feira por mar cerca de mil pessoas bloqueadas no porto de Misrata, onde outros 4.000 imigrantes esperam para ser resgatados.

A maioria das pessoas retiradas nesta segunda-feira são imigrantes, entre os quais 650 ganenses, assim como filipinos e ucranianos, informou a OIM.

"Entre os resgatados também há 100 líbios, 23 dos quais com ferimentos de guerra, incluindo uma criança que recebeu um disparo no rosto", explica ainda a OIM em um comunicado.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu em Budapeste um cessar-fogo na Líbia, ao mesmo tempo em que anunciou as Nações Unidas pretendem ampliar a ajuda humanitária a Trípoli.

"Temos três objetivos: primeiro um cessar-fogo imediato e efetivo, segundo estender nossa ajuda humanitária aos que necessitam, terceiro continuar o diálogo político e a busca de uma solução política", declarou Ban a um grupo de jornalistas durante uma visita oficial de três dias a Hungria.

"Vista a magnitude da crise, se os confrontos prosseguirem, é absolutamente necessário que as autoridades líbias parem os combates e de matar as pessoas", insistiu.

Apesar das negociações para obter uma solução política prosseguirem, o secretário-geral da ONU pediu uma ação internacional "combinada e em coordenação com o povo líbio".

"Uma vez obtido o cessar-fogo, a Líbia necessitará de amplos esforços para estabelecer e manter a paz, assim como para a reconstrução", completou Ban.

A situação humanitária é particularmente grave nas cidades onde acontecem os confrontos, destacou o secretário-geral.

"Há dezenas de milhares de pessoas cujas necessidades básicas não são satisfeitas, portanto temos um grave problema", explicou.

Ban afirmou que a ONU pretende ampliar, em colaboração com a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho, a ajuda humanitária a Trípoli. As Nações Unidas já estabeleceram em Benghazi uma base humanitária para as 500.000 pessoas que fugiram dos combates.


As autoridades líbias, no entanto, continuam negando as acusações de crimes.

Saif al-Islam Kadhafi, filho de Muamar Kadhafi, negou que o regime líbio tenha cometido qualquer crime contra o povo, em uma entrevista ao jornal Washington Post.

"Não cometemos nenhum crime contra nosso povo", declarou Kadhafi, 38 anos, ao desmentir as acusações de que as forças líbias estão bombardeando os manifestantes antigovernamentais.

Ele comparou as acusações aos relatórios prévios à guerra no Iraque que afirmavam que o regime de Saddam Hussein escondia armas de destruição em massa.

"É exatamente como as armas de destruição em massa. Armas de destruição em massa, armas de destruição em massa, armas de destruição em massa! Vai e ataca o Iraque. Civis, civis, civis! Vai e ataca a Líbia. É a mesma coisa", disse.

A Otan comanda o respeito a uma zona de exclusão aérea aprovada pela ONU para defender os civis e pede a Kadhafi que abandone o poder.

O filho do ditador líbio afirmou ainda ter nomeado para o governo muitos reformistas, mas destacou que vários passaram para o lado da rebelião e têm papéis importantes no Conselho Nacional de Transição (CNT), órgão insurgente.

Saif disse ainda que a rebelião é controlada pela Al-Qaeda e negou as acusações de ataques do regime contra civis em Misrata.

Além disso, o porta-voz do regime, Mussa Ibrahim, voltou a afirmar que o envolvimento da Al-Qaeda no conflito da Líbia está provado, ao informar que um ex-dirigente do grupo terrorista estava a caminho de Nusrata.

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaDitaduraGuerrasLíbia

Mais de Mundo

Argentina registra décimo mês consecutivo de superávit primário em outubro

Biden e Xi participam da cúpula da Apec em meio à expectativa pela nova era Trump

Scholz fala com Putin após 2 anos e pede que negocie para acabar com a guerra

Zelensky diz que a guerra na Ucrânia 'terminará mais cedo' com Trump na Presidência dos EUA