Manifestação em Ancara contra a política de ensino do governo: "Não envio meu filho à aula hoje para denunciar o islamismo descontrolado praticado no ensino público, que se converteu em ensino islâmico", diz morador. (AFP/ ADEM ALTAN)
Da Redação
Publicado em 13 de fevereiro de 2015 às 18h05.
Ancara - Várias associações da minoria muçulmana alevi da Turquia e um sindicato de professores convocaram nesta sexta-feira um boicote das escolas públicas para exigir um ensino laico no país, de maioria sunita.
Segundo a imprensa turca, o movimento foi seguido em muitas cidades, como Istambul, Ancara e Izmir (oeste).
Nesta última, a polícia dispersou uma manifestação de 2.000 pessoas - em sua maioria professores - com mangueiras de água e bombas de gás lacrimogêneo, informou a agênia de notícias Dogan.
Ao menos 40 pessoas foram detidas, acrescentou uma fonte judicial.
Cerca de 2.000 pessoas protestaram no centro de Ancara e outras 1.000 tomaram as ruas de Istambul.
"Não envio meu filho à aula hoje para denunciar o islamismo descontrolado praticado no ensino público, que se converteu em ensino islâmico", afirmou à AFP Ahmet, um funcionário de Ancara que pediu o anonimato.
Ahmet denuncia as aulas de religião obrigatórias nos centros públicos.
Os alevis, um grupo muçulmano heterodoxo e progressista que constitui cerca de 20% dos habitantes da Turquia, consideram que estas aulas dão prioridade à visão sunita do Islã e denigrem a aprendizagem da ciência.
Em uma decisão de setembro, a Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH) considerou que a aprendizagem obrigatória das religiões imposta na Turquia não respeita a liberdade de crença dos pais e pediu uma reforma do sistema sem demora.
Apenas os alunos cristãos ou judeus, as duas minorias religiosas reconhecidas na Turquia, podem ficar isentos destas aulas de religião.
O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, estima, no entanto, que o ensino obrigatório das religiões é uma forma de lutar contra a radicalização dos grupos jihadistas.
O presidente turco islamita conservador Recep Tayyip Erdogan, no poder desde 2003, é acusado por seus opositores de querer islamizar a Turquia.