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Ministério do Interior da Turquia afasta prefeito de Istambul do cargo

Opositor ao regime de Erdogan está preso desde a quarta-feira

EKREM IMAMOGLU: candidato do partido de oposição CHP venceu as eleições de março, mas acusações de fraude fizeram o pleito ser cancelado / Murad Sezer/Reuters

EKREM IMAMOGLU: candidato do partido de oposição CHP venceu as eleições de março, mas acusações de fraude fizeram o pleito ser cancelado / Murad Sezer/Reuters

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 23 de março de 2025 às 13h30.

O Ministério do Interior da Turquia disse no domingo que suspendeu Ekrem Imamoglu como prefeito de Istambul depois que o político foi detido sob acusações de corrupção e terrorismo.

Imamoglu é um dos principais opositores ao presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Seu aliados denunciam sua prisão como golpe político.

"Ekrem Imamoglu, prefeito do município metropolitano de Istambul... foi suspenso do cargo", disse um comunicado do ministério.

Após já ter sido detido na última quarta-feira, Imamoglu foi acusado formalmente por um juiz e teve sua prisão decretada neste domingo por "corrupção". Desde a detenção do prefeito, uma série de protestos se desencadeou no país.

Um dos advogados de Imamoglu confirmou a decisão do tribunal, à qual será contestada. "Estou de pé, nunca me renderei", disse Imamoglu em uma mensagem na rede social X após o veredito.

Imamoglu declarou ainda que as ações judiciais contra ele equivalem a uma “execução” sumária de sua carreira política.

"A Turquia acordou hoje com uma grande traição. O processo judicial que está sendo realizado não é um processo judicial, é uma execução sem julgamento", escreveu no X.

Ele também prometeu que "tudo ficará bem", lema que adotou em 2019 depois que sua eleição como prefeito de Istambul foi anulada, mas que acabou vencendo por uma ampla margem em uma segunda votação.

O prefeito enfrentava outra investigação "relacionada a terrorismo", mas o tribunal não determinou sua prisão neste caso, disseram o advogado e uma outra fonte à AFP.

O partido do prefeito, Partido Popular Republicano (CHP) social-democrata, denunciou um "golpe de Estado político" depois que Imamoglu foi levado ao tribunal de Caglayan, em Istambul, no sábado, junto com 90 corréus.

O tribunal também ordenou a prisão de alguns desses réus, incluindo um dos conselheiros mais próximos do prefeito, segundo a imprensa turca.

Protestos em todo o país

Milhares de pessoas se reuniram pela quarta noite consecutiva no sábado em frente à Prefeitura de Istambul para protestar contra a prisão de Imamoglu, denunciando acusações "imorais e infundadas" contra ele.

Alguns manifestantes passaram a noite dentro da Prefeitura, tentando dormir em cadeiras no saguão enquanto esperavam que o destino do prefeito fosse decidido, observou um fotógrafo da AFP.

Erdogan, que está no poder há mais de duas décadas — inicialmente como primeiro-ministro e depois como presidente — prometeu não ceder ao "terror das ruas".

— A Turquia não se renderá ao terror das ruas — declarou Erdogan, depois que o presidente do Partido Republicano do Povo (CHP, de viés social-democrata), Özgur Özel, pediu aos turcos que fossem às ruas na noite desta sexta-feira para protestar contra a prisão de Imamoglu. — Deixe-me dizer em alto e bom som: os protestos de rua que o líder do CHP convocou são um beco sem saída.

Rival de Erdogan

Imamoglu se tornou um intrigante rival do chefe de Estado quando tomou a Prefeitura de Istambul do partido do presidente em 2019. O AKP, o Partido da Justiça e Desenvolvimento, dominou a capital econômica do país nos últimos 25 anos.

O prefeito da oposição, reeleito triunfalmente no ano passado, deveria ser nomeado neste domingo como candidato de seu partido para as próximas eleições presidenciais de 2028.

O CHP decidiu realizar essas primárias apesar da prisão de sua principal figura política e convocou todos os turcos, mesmo de fora do partido, a participar da votação.

— Sempre que há um opositor forte [de Erdogan], o prendem — disse Ferhat, um eleitor de 29 anos que não quis revelar seu sobrenome.

Muitos dos presentes expressaram sua indignação com a prisão de um prefeito que eles elegeram há alguns anos.

— Eles literalmente roubaram nosso voto. Estou em lágrimas — afirmou Sukru Ilker, de 70 anos.

As acusações contra Imamoglu levantaram temores entre seus apoiadores de que ele poderia ser substituído por uma autoridade nomeada pelo Estado à frente da maior cidade do país. Sua prisão desencadeou protestos em massa em pelo menos 55 das 81 províncias da Turquia, com confrontos violentos com forças de segurança e centenas de detenções, disseram autoridades.

A onda de protestos é inédita desde as grandes manifestações que começaram no Parque Gezi, em Istambul, e abalaram o país em 2013.

Para evitar distúrbios, a província de Istambul estendeu a proibição de reuniões até quarta-feira à noite. Também anunciou restrições à entrada na cidade de qualquer pessoa que participe de manifestações, sem especificar como implementaria a medida.

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