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Militarização da polícia nos EUA muda relação com comunidade

Guerra contra drogas e terrorismo diluiu limite entre o policial e o soldado, transformando agentes armados com rifles semiautomáticos em elementos "rotineiros"


	Equipe da Swat: são equipes como a SWAT, treinadas com métodos militares, que fazem parte de cada vez mais departamentos de polícia dos EUA
 (Wikimedia Commons)

Equipe da Swat: são equipes como a SWAT, treinadas com métodos militares, que fazem parte de cada vez mais departamentos de polícia dos EUA (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 21 de agosto de 2013 às 11h49.

Washington - A guerra contra as drogas e o terrorismo diluiu o limite entre o policial e o soldado até transformar agentes armados com rifles semiautomáticos em elementos "rotineiros" de cada vez mais cidades dos Estados Unidos, segundo várias pesquisas independentes.

A imagem do policial amável que conhecia cada morador do bairro foi deslocada em grande parte pela de agentes armados com rifles, transportados em veículos blindados e impregnados de uma mentalidade de guerra difícil de apagar.

São os agentes de equipes especiais como a SWAT, treinados com métodos militares, que fazem parte de cada vez mais departamentos de polícia dos Estados Unidos e se destinam inclusive a batidas contra alvos não armados, operações enormemente distintas das de alto risco para as quais foram originalmente formados.

"Se chamam "especiais" e o que faz supor que não deveriam ser usados constantemente. O problema é que já não são especiais, mas rotineiros", disse à agência Efe Arthur Rizer, ex-policial e ex-militar que observou durante anos a progressiva militarização dos departamentos de polícia locais.

"Se os treinamos como soldados e os equipamos como soldados, não deveríamos nos surpreender que comecem a atuar como soldados. E a missão de um soldado é matar o inimigo", ressaltou Rizer, atualmente professor de Direito na Universidade de Georgetown.


Radley Balko concorda com ele. O jornalista investigativo publicou recentemente um livro no qual descreve como policiais militares passaram a ser usados quase diariamente em batidas contra suspeitos de tráfico de drogas ou de manter apostas de jogo ilegais, em algumas ocasiões com vítimas mortais colaterais.

Seu livro "Ascensão do Policial Guerreiro" (em tradução livre) relata, por exemplo, o "absurdo" caso de monges tibetanos detidos por equipes SWAT depois de vencida a estadia permitida pelo visto em 2006, ou o do menino de 11 anos Alberto Sepúlveda, morto em 2000 após ser alvo de disparos da polícia durante uma batida antinarcóticos na Califórnia.

As forças especiais SWAT nasceram nos anos 60, pouco antes de o ex-presidente Richard Nixon declarar guerra contra as drogas, e cresceram por causa dessa estratégia, com a intenção original de proteger os policiais dos integrantes de cartéis, "que normalmente estão fortemente armados", explica Rizer.

Uma lei de 1878 impede o uso de militares como forças de ordem pública nos EUA, o governo concebeu "uma mistura" entre ambos os estilos para combater o narcotráfico, segundo o especialista.

"A guerra contra as drogas começou a equipar os policiais como soldados, e a chamada guerra contra o terrorismo os levou a um novo nível", disse Rizer.

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o governo aumentou os fundos para equipes antiterroristas em todo o país, ao mesmo tempo em que as tecnologias militares "barateavam" e se tornavam "mais acessíveis aos departamentos" das polícias locais, indicou.

Segundo dados do Centro para o Jornalismo de Investigação (CIR), o Departamento de Segurança Nacional gastou US$ 35 bilhões desde 2002 para reforçar as forças nacionais, especialmente para compras de equipamentos militares, enquanto o Pentágono concedeu US$ 500 milhões aos agentes nacionais só em 2011.


Os agentes da SWAT que realizavam poucas centenas de batidas em 1975 passaram a pelo menos 50 mil em 2005, segundo uma pesquisa nacional do professor Peter Kraska da Universidade de Kentucky.

Essa tendência chamou a atenção de Rizer em 2006, quando voltava para casa depois de dois anos na Guerra do Iraque e viu "um policial no aeroporto de Minneapolis que levava uma M4, exatamente a mesma arma "usada quando eu patrulhava a cidade iraquiana de Faluja".

"Um M4 é uma arma de longa distância. Se os policiais precisam matar alguém que esteja tão longe, isso não encaixa com o conceito de proteger e servir a sua comunidade. Portanto comecei a investigar a militarização da polícia nos EUA", explicou Rizer.

Hoje, ele acredita que a "comunidade policial americana se tornou uma geração em que a mentalidade que importa é a de ser um tipo duro e derrubar portas".

Em seu livro, Balko fala também de uma "cultura da militarização" difícil de erradicar e alimentada por estímulos como vídeos para recrutar novos agentes, que mostram policiais descendo de helicópteros e disparando armas de grande calibre.

Às pesquisas de Rizer, Balko e Kraska se somarão no princípio do ano que vem em um estudo do Centro para a Justiça da ACLU, organização para a defesa dos direitos civis, baseado em dados de 255 departamentos de polícia em 25 estados.

Kara Dansky, que dirige a pesquisa da ACLU, explicou que, após anos lendo relatórios preocupantes como o de Balko, decidiram investigar para determinar "se verdadeiramente há uma militarização agressiva da polícia local" em nível nacional.

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