Soldados malinenses em um ponto de Sevare, a caminho de Timbuctu: a cidade se converteu na capital intelectual e espiritual do Islã na África nos séculos XV e XVI (Fred Dufour/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2013 às 11h35.
Bamako - Os soldados franceses e malinenses tomaram nesta segunda-feira o controle dos acessos e do aeroporto de Timbuctu, uma importante cidade para o Islã no norte do Mali inscrita na lista do patrimônio da Unesco e que estava ocupada há sete meses por grupos islamitas armados.
As duas forças armadas realizaram uma manobra conjunta, terrestre e aérea, que incluiu o lançamento de forças em paraquedas para controlar os acessos a Timbuctu, situada 900 km a nordeste de Bamaco, disse em Paris o porta-voz do Estado-Maior conjunto, o coronel Thierry Burkhard.
Segundo o coronel, os militares franceses e malinenses controlam agora a zona entre as duas principais cidades do norte do Mali, Timbuctu e Gao, dezessete dias após o início da intervenção militar francesa.
"Controlamos o aeroporto de Timbuctu. Não encontramos nenhuma resistência. Não há nenhum problema de segurança na cidade", afirmou à AFP um oficial superior do exército malinense.
Mas os testemunhos se multiplicam sobre a destruição de manuscritos em Timbuctu.
Esta cidade às margens do Saara, que foi um grande centro intelectual do Islã e uma cidade próspera, caminho das caravanas, caiu em junho de 2012 nas mãos dos grupos armados que a desfiguraram, destruindo venerados santuários muçulmanos em nome de uma concepção rigorosa da sharia, a lei islâmica.
Timbuctu, que se converteu na capital intelectual e espiritual do Islã na África nos séculos XV e XVI, é famosa por suas dezenas de milhares de manuscritos, alguns dos quais datam da era pré-islâmica.
"As tropas francesas e malinenses ainda não chegaram ao centro da cidade. Temos alguns elementos na cidade, mas são poucos. Mas os islamitas provocaram destruições antes de ir. Queimaram casas e manuscritos", afirmou.
"Um edifício que abrigava manuscritos foi queimado", declarou à AFP uma fonte malinense dos serviços de segurança, cujo testemunho foi confirmado por uma patrulha de reconhecimento do exército do Mali presente na cidade e pelo prefeito de Timbuctu, que se encontrava em Bamaco.
"Falei com meu encarregado de comunicação nesta manhã. O que acontece em Timbuctu é dramático", ressaltou o funcionário. "O centro Ahmed Baba, onde há manuscritos de valor, foi incendiado pelos islamitas. É um verdadeiro crime cultural", denunciou.
Alguns destes manuscritos são da era pré-islâmica. O Instituto de altos Estudos e de Pesquisa Islâmica Ahmed Baba tem um acervo de 60 a 100 mil manuscritos, segundo o ministro malinense da cultura.
A operação para controlar Timbuctu ocorre dois dias após a ofensiva relâmpago sobre Gao, a cidade mais importante do norte do Mali e um dos bastiões dos combatentes islamitas, 1.200 km a nordeste de Bamaco.
"As coisas ocorrem como estavam previstas e o que é importante é que o Mali está sendo libertado pouco a pouco" dos grupos islamitas, disse o chanceler francês, Laurent Fabius, nesta segunda-feira.
Assim como em Gao, intensos bombardeios aéreos ocorreram antes da ação das tropas terrestres em Timbuctu.
A reconquista de Gao foi precedida por uma operação das tropas francesas contra o aeroporto e uma ponte estratégica. Foi seguida pela chegada, por via aérea, de tropas do Chade e do Níger provenientes de Niamey para restabelecer a segurança na cidade, uma operação que o exército francês parece reticente em realizar nas cidades reconquistadas dos grupos islamitas armados.
Os soldados chadianos e nigerinos também controlavam nesta segunda-feira as cidades de Menaka e Anderamboukan (nordeste), perto da fronteira com o Níger, segundo fontes militares regionais.
Mais de 6.000 soldados de países da África Ocidental, assim como do Chade, devem ser mobilizados no Mali para substituir o exército francês, mas chegam a conta-gotas e sua mobilização é lenta devido aos sérios problemas de financiamento e logística.
Depois de Gao e Timbuctu, os olhares se voltam agora para Kidal, no extremo nordeste do país, não muito longe da fronteira com a Argélia. Trata-se da terceira cidade importante do norte do Mali e bastião dos islamitas do Ansar Dine (Defensores do Islã).