Mundo

Militares dão golpe de estado no Sudão; protestos são registrados

Comunidade internacional denuncia o golpe militar. O governo dos Estados Unidos suspendeu ajuda de 700 milhões de dólares

O Conselho de Segurança da ONU também deve se reunir nesta terça-feira para tratar do golpe (AFP/AFP)

O Conselho de Segurança da ONU também deve se reunir nesta terça-feira para tratar do golpe (AFP/AFP)

A

AFP

Publicado em 26 de outubro de 2021 às 08h17.

Os sudaneses mantêm os protestos nesta terça-feira (26) contra o golpe de Estado que derrubou o governo de transição, apesar da repressão militar que deixou quatro mortos e dezenas de feridos na segunda-feira, ao mesmo tempo que aumenta a condenação internacional.

"Voltar ao passado não é uma opção", gritam os manifestantes em desafio aos militares liderados pelo general Abdel Fattah al Burhan, que anunciou a dissolução do governo de transição e declarou estado de emergência. Muitos líderes civis que estavam no poder foram detidos.

Burhan deve conceder uma entrevista coletiva na terça-feira para anunciar os próximos passos do que a comunidade internacional já denuncia como um "golpe de Estado militar".

Os três países (Estados Unidos, Grã-Bretanha e Noruega) que se envolveram em mediações de conflitos sudaneses anteriores afirmaram que "as ações dos militares são uma traição à revolução e transição" iniciada há mais de dois anos.

Para aumentar a pressão sobre os golpistas, o governo dos Estados Unidos anunciou a suspensão de uma ajuda de 700 milhões de dólares destinada à transição, que deveria levar o país do leste da África, um dos mais pobres do mundo, às primeiras eleições livres após três décadas de ditadura de Omar al Bashir.

O Conselho de Segurança da ONU também deve se reunir nesta terça-feira para abordar a questão, enquanto manifestantes e analistas consideram que um retorno ao poder absoluto dos militares é cada vez mias factível.

Até o momento, as missões diplomáticas em Cartum e os pedidos da comunidade internacional não surtiram efeito.

O primeiro-ministro Abdala Hamdok, sua esposa e os demais ministros e integrantes do Conselho Soberano (a autoridade de transição) foram detidos e permanecem em locais não revelados.

Desobediência e barricadas

Apenas Moscou não seguiu as críticas e atribuiu o golpe a "uma política equivocada e à interferência estrangeira" no país, onde Rússia, Turquia, Estados Unidos e Arábia Saudita disputam a influência atraídos por seus estratégicos portos no Mar Vermelho.

Os ativistas pró-democracia anunciaram uma "greve geral" e "desobediência civil" contra o golpe do general Burhan, que prometeu formar um governo "competente" em breve e seguir com a transição para eleições livres.

Com várias bandeiras do país, milhares de sudaneses tomaram as ruas de Cartum para entender o que acontecia, pois a capital estavam sem internet e serviço de telefonia.

(AFP/AFP)

Para os manifestantes, a missão é "salvar" a revolução que derrubou Bashir em 2019, após uma repressão que matou 200 pessoas.

Na segunda-feira, ao menos quatro manifestantes morreram por tiros disparados pelas Forças Armadas e mais de 80 ficaram feridos, informou um sindicato de médicos.

"O povo escolheu um Estado civil e não um poder militar", afirmaram vários sudaneses em Cartum, onde barricadas com pneus incendiados e pedras bloqueavam as ruas perto do quartel-general do exército.

'A opção da ditadura'

O processo, motivo de orgulho para os sudaneses após a conclusão decepcionante de outras revoltas pró-democracia no mundo árabe, já estava estremecido há muito tempo.

Em abril de 2019, militares e civis chegaram a um acordo para expulsar Bashir do poder e formar o Conselho Soberano, composto pelo mesmo número de integrantes dos dois lados para organizar as primeiras eleições livres no fim de 2023.

O golpe freia a transição e expõe a crescente divisão entre os que desejavam um governo exclusivamente civil e os que defendiam um Executivo de generais para retirar o Sudão do marasmo político e econômico.

Jonas Horner, pesquisador no International Crisis Group, considera este "um momento existencial para os dois lados, civil e militar".

"Este tipo de intervenção reintroduz a ditadura como opção", disse.

Por temer o pior, o gabinete do primeiro-ministro Hamdok advertiu os militares que eles têm "toda a responsabilidade sobre sua vida ou morte". O país já havia sido cenário de uma tentativa de golpe em setembro.

Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, expressou o temor de um "desastre" caso o Sudão retroceda, enquanto o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, exigiu respeito à "carta constitucional".

O texto, assinado por todos os líderes anti-Bashir em 2019, prevê eleições no fim de 2023 e uma transição civil, com a qual o general Burhan afirmou que continuará comprometido depois de nomear um novo governo e um novo Conselho Soberano.

Diante das críticas, o general Burhan disse que o governo respeitará os acordos internacionais assinados pelo Sudão, um dos quatro países árabes que normalizou recentemente as relações com Israel.

Acompanhe tudo sobre:MilitaresProtestos no mundoSudão

Mais de Mundo

Prefeita de Los Angeles demite chefe dos bombeiros por gestão de incêndios

Juiz adia julgamento de prefeito de Nova York por corrupção, mas rejeita arquivar o caso

Homem é gravemente ferido após ser atacado no memorial do Holocausto em Berlim

Procuradoria rejeita denúncia de Evo Morales sobre suposto 'atentado' na Bolívia