Mundo

Milhões fugiram de casa em 2013 por conflitos religiosos

"Em quase todos os cantos, milhões de cristãos, muçulmanos, hindus e outros representantes de crenças foram forçados a deixar suas casas", informa relatório


	Síria: "em Homs, os cristãos são agora apenas cerca de mil dos quase 160 mil que viviam ali antes da guerra", diz relatório
 (AFP)

Síria: "em Homs, os cristãos são agora apenas cerca de mil dos quase 160 mil que viviam ali antes da guerra", diz relatório (AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de julho de 2014 às 22h10.

Washington - Os conflitos no mundo em 2013 provocaram o maior deslocamento de comunidades religiosas na história recente, indicaram os Estados Unidos nesta segunda-feira, ressaltando que milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas no ano passado.

"Em quase todos os cantos do mundo, milhões de cristãos, muçulmanos, hindus e outros representantes de crenças foram forçados a deixar suas casas por causa de suas orientações religiosas", informa o relatório anual sobre a liberdade religiosa no mundo.

"Por medo, ou pela força, bairros inteiros estão sendo esvaziados de seus habitantes", alerta o documento.

Do Oriente Médio à Ásia, passando por alguns locais da África e da Europa, "comunidades desaparecem de seus tradicionais e históricos lares e se dispersam por todo o mundo. Em áreas de conflito, em especial, esses deslocamentos em massa se tornaram uma regra perniciosa", acrescenta o informe.

Elaborado pelo Departamento de Estado americano, o relatório de 2013 destaca o caso da Síria, onde, após três anos de guerra civil contra o governo de Bashar al-Assad, "a presença cristã está-se tornando uma sombra do que já foi".

"Na cidade de Homs, os cristãos são agora apenas cerca de mil dos quase 160 mil que viviam ali antes da guerra".

"Quando 75% da população mundial ainda vive em países que não respeitam as liberdades religiosas, deixem-me dizer para vocês, temos um longo caminho pela frente", afirmou o secretário de Estado americano, John Kerry, ao apresentar o documento.

No Egito, igrejas católicas, casas e negócios foram saqueados e queimados, quando o Exército derrubou há um ano o então presidente islâmico, Mohamed Mursi.

"Multidões dirigidas por islâmicos cometeram atos de violência, intimidação, expulsões forçadas e castigos contra os cristãos, sobretudo, no Alto Egito (ao sul)", exemplifica o informe.

Também houve no país ataques contra os xiitas, por parte dos salafistas, depois de "meses de governo e de uma retórica oficial islâmica anti-xiita".

O Departamento de Estado americano destaca a violência entre cristãos e muçulmanos na República Centro-Africana, onde pelo menos 700 pessoas foram mortas em Bangui em dezembro, e mais de um milhão de habitantes foram forçados a se deslocar.

Na Birmânia, a violência contra os muçulmanos em Meikhtila provocou a morte de 100 pessoas e obrigou 12 mil a abandonar a região no início do ano.

"A Coreia do Norte se destacou, mais uma vez, com sua proibição absoluta das organizações religiosas e suas duras penas para toda atividade religiosa não autorizada", acrescenta o informe.

Até a Europa

"Em todas as partes do mundo, os indivíduos são vítimas de discriminação, violência e agressões (...) simplesmente por exercer sua fé", diz o estudo.

A discriminação se torna patente na França, onde os atos contra muçulmanos aumentaram 11,3% em 2013, segundo números dessa comunidade no país, citados pelos Estados Unidos. De acordo com a comunidade judaica, os atos antissemitas já haviam registrado aumento de 58% em 2012 - último dado disponível.

A diplomacia americana vê um fenômeno mais global na Europa, "onde muitos países assistem a um aumento dos partidos políticos nacionalistas (...) que têm judeus e muçulmanos na mira".

Uma decisão dos governos

O relatório americano aborda episódios ocorridos em 2013, mas foi escrito antes que milhares de cristãos e outras minorias fugissem da cidade de Mossul, no norte do Iraque, em meio aos ataques jihadistas liderados pelos insurgentes do Estado Islâmico.

"Quando os governos decidem não lutar contra a discriminação religiosa e a intolerância é quando se gera um entorno, no qual os grupos intolerantes e violentos funcionam", acrescenta o texto.

Na China, "o respeito e a proteção por parte do governo do direito à liberdade religiosa caiu muito abaixo de seus compromissos internacionais de direitos humanos".

Pequim "processou familiares de pessoas que se autoimolaram, prendeu e torturou praticantes do Falun Gong, seguiu com sua perseguição a membros de igrejas e bispos e padres católicos não registrados, e buscou o regresso forçado dos uigures que buscaram asilo no estrangeiro".

As autoridades chinesas também prenderam estudantes, monges e outras pessoas nas áreas tibetanas, e há relatos de torturas contra muçulmanos uigures.

Já no Paquistão mais de 400 xiitas muçulmanos morreram em ataques sectários em 2013, e mais de 80 cristãos foram mortos em um atentado a bomba contra uma igreja. Além disso, as autoridades continuam aplicando leis contra a blasfêmia.

Na Rússia, existem leis restritivas contra o "extremismo", em referência às atividades de grupos religiosos menores, e se continua a garantir uma posição de privilégio à Igreja Ortodoxa Russa, completa o documento.

"Não estamos dizendo às pessoas como têm de viver cada dia. Estamos pedindo pelo valor universal da tolerância, pela capacidade das pessoas de terem respeito por sua própria individualidade e por suas próprias decisões", insistiu Kerry.

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaÁsiaChinaCoreia do NorteCristãosEgitoEuropaFrançaIraqueMuçulmanosOriente MédioPaíses ricosReligiãoRússiaSíria

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru