Militares na Ucrânia: conflito a cada dia que passa se parece mais com guerra tradicional (Maxim Zmeyev/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de junho de 2014 às 13h24.
Kiev - Milhares de cidadãos estão fugindo do sudeste da Ucrânia para outras regiões do país e a Rússia para escapar da operação antiterrorista lançada por Kiev contra os insurgentes russófonos, que a cada dia que passa se parece mais com uma guerra tradicional.
O Ministério da Saúde ucraniano, após semanas de silêncio sobre a complexa situação humanitária nas regiões rebeldes de Donetsk e Lugansk, reconheceu hoje que pelo menos sete mil refugiados foram realojados em outras regiões da Ucrânia.
As autoridades russas, enquanto isso, informam sobre a chegada de milhares de refugiados para as cidades e regiões na fronteira com o sudeste da Ucrânia, cenário há quase dois meses de sangrentos combates entre as forças governamentais ucranianas e os separatistas pró-Rússia.
Na cidade de Slaviansk, bastião da rebelião contra Kiev e alvo há semanas de ataques das tropas ucranianas, "restam apenas sete mil" de seus mais de 117 mil moradores, informou hoje uma emissora de televisão ucraniana leal a Kiev com base em dados da inteligência militar.
O ministro da Saúde da Ucrânia, Oleg Musiy, reconheceu que as ambulâncias de Slaviansk e da vizinha Kramatorsk, com 170 mil habitantes, não têm gasolina para poder atender os cidadãos.
"Infelizmente, ainda temos dez hospitais que não funcionam" nas regiões de Donetsk e Lugansk, acrescentou o ministro, que frisou além disso que pelo menos 14 localidades próximas a Slaviansk e alguns bairros da cidade não têm energia nem água há dias.
A população civil de algumas cidades do sudeste, a maioria vítimas involuntárias do enfrentamento armado entre as milícias e as tropas, deixou de receber pensões e bolsas sociais do governo central.
"A situação em Snezhnoe (Donetsk) e Krasni Luch (Lugansk) se agravou tanto que não podemos controlar a entrega. Temporariamente, até que se estabilize a situação, devemos suspender as transferências e o envio de dinheiro", disse hoje o primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk.
O Ministério da Saúde reconheceu hoje a morte de mais de 250 civis, entre eles pelo menos quatorze menores de idade e quinze mulheres, durante a operação antiterrorista, cuja fase ativa foi lançada em 2 de maio.
Apenas ontem, os necrotérios das regiões de Donetsk e Lugansk receberam 50 corpos de vítimas dos combates, disse o ministro da Saúde.
As autoridades, no entanto, não informaram o número de baixas entre as forças governamentais e os milicianos.
Um dia depois do presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, ordenar a criação de corredores humanitários para que os civis possam abandonar as zonas de combate, o governo anunciou que os cidadãos deverão fugir através dos postos de controles militares que cercam as cidades controladas pelos rebeldes.
Tudo leva a crer que a relativa calma que se instalou no sudeste ucraniano desde a manhã de ontem, imediatamente depois da ordem de Poroshenko, é resultado das partes em conflito estarem facilitando a saída da população civil das zonas de combate.
A diplomacia internacional, enquanto isso, procura assumir um maior peso na difícil tarefa de pôr fim ao conflito armado sem contar com os líderes da rebelião pró-Rússia.
A diplomacia liderada por alguns países ocidentais e a OSCE acreditam que o Kremlin pode interromper a violência a qualquer momento se exercer sua influência sobre os separatistas armados que enfrentam as forças ucranianas.
Moscou nega essa influência e classifica os separatistas como "cidadãos pacíficos" descontentes, inclusive os insurgentes armados. Kiev, por sua vez, rejeita taxativamente qualquer negociação com os separatistas russófonos, considerados terroristas pela Procuradoria-Geral da Ucrânia.