Palestinos durante funeral de comandantes do Hamas, na Faixa de Gaza (Ibraheem Abu Mustafa/Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de agosto de 2014 às 14h24.
Gaza - Milhares de pessoas se despediram nesta quinta-feira dos três comandantes do Hamas assassinados por Israel, em um funeral que representou uma demonstração de apoio popular ao braço armado do movimento islamita, apesar de não cessarem os bombardeios israelenses e de o número de mortos na Faixa de Gaza não deixar de aumentar.
No caminho até a cidade de Rafah, no sul do território palestino e próxima da fronteira com o Egito, pela estrada de Salahadin eram poucos os veículos que passavam e muita destruição deixada para trás.
A poucos quilômetros de distância, uma coluna de fumaça revelava que o campo de refugiados Al Nuseirat estava novamente sob ataque - na última noite, um novo ataque aéreo israelense acabou ali com a vida de dois palestinos que estavam em uma motocicleta - e que a guerra é uma dura realidade diária.
Mesmo assim, milhares de pessoas que pareciam não temer à morte - quatro pessoas morreram hoje em um bombardeio sobre um cemitério durante um funeral na Cidade de Gaza - tomaram o centro de cidade para render homenagem aos três comandantes.
"Não temos medo", disse à Agência Efe Embaraa, que esperava junto com outras mulheres em uma esquina, à sombra, pelo cortejo dos corpos de Mohamad Abu Shamala, Raed al-Attar e Mohamad Barhum até o cemitério da cidade.
"Mohamad (Abu Shamala) era como nosso irmão, como nosso pai. Queremos oferecer a ele nosso apoio. Nossa casa foi destruída, mas não temos medo", insistiu.
Segundo essa mulher, "viúva de um mártir" de guerras anteriores e mãe de três crianças pequenas, "depois de hoje somos obrigados a conseguir nossos direitos".
"A perda é dura, mas teremos outros mil líderes como eles", acrescentou, enquanto garantia que não acreditava em nada nem ninguém além dos combatentes, e criticou seus vizinhos egípcios por dificultarem sua situação.
Continuar "até o fim" foi também a opção escolhida por Abu Ahmed, que usava um boné do Hamas sobre o qual tremulavam bandeiras do movimento islamita, da Frente Popular para a Libertação da Palestina, da Jihad Islâmica e das Brigadas de Azzedim al Qassam, o braço armado do Hamas ao qual pertenciam os combatentes mortos.
"Os líderes que perdemos não são melhores que as crianças que morreram. Eles estavam lutando pelos direitos dessas crianças. Agora, os combatentes palestinos concluirão a batalha", garantiu entre a multidão sob o constante som dos drones israelenses.
Israelenses e palestinos estabeleceram de forma conturbada várias tréguas com o objetivo de dar espaço para o diálogo e a negociação, com a mediação do Egito, para um cessar-fogo permanente.
Um acordo que após os incidentes das últimas 48 horas - quando recomeçaram os lançamentos de foguetes contra Israel e 51 palestinos morreram em ataques israelenses - parece cada vez mais distante.
Logo após a confirmação da morte dos comandantes do Hamas, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aplaudiu a ação e insistiu que seu país seguirá adiante com a ofensiva "até conseguir restabelecer a segurança".
Seguindo essa linha de provocações, o braço armado do Hamas prometeu vingança e garantiu que a luta armada continuará "até que Israel pague o preço e nossos direitos sejam aceitos".
Desde a ruptura da trégua pelas duas partes na última terça-feira, Israel tentou também assassinar o líder das brigadas, Mohamad Al Deif, que, de acordo com o Hamas, sobreviveu a um bombardeio no qual morreram sua segunda esposa, dois de seus filhos e pelo menos outras três pessoas.
Ações que parecem uma mudança de estratégia e que vem causando a ira do Hamas e de seus simpatizantes na Faixa de Gaza.
"Agora estamos esperando para ver quais são as indicações da liderança. Netanyahu e (o ministro da Defesa israelense Moshé) Yaalon pagarão pelo que fizeram", ameaçou Abu Ahmed, para reforçar que "os combates devem continuar".
Ahmed bebe das mesmas expressões do Hamas, que se recusa a renunciar a suas exigências frente a Israel e garantiu que manterá sua "resistência" até conseguir seus propósitos, em particular o fim do bloqueio sobre Gaza.
"O comunicado da resistência palestina diante dos últimos eventos é que continuaremos até o fim da luta. A resistência está grávida de milhares de combatentes", afirmou o porta-voz do Hamas, Musher al-Masri.
"Após nossos líderes, nossos grupos, veremos como Israel voltará a atacar crianças e mulheres", previu Masri, que concedia uma entrevista depois da outra no concorridíssimo hospital de Al Shifa, na Cidade de Gaza.
"Nós continuaremos até o fim, até que as pessoas em Gaza tenham alguma liberdade, alguma paz. Israel não demonstrou seriedade nas negociações e foram eles que começaram. Continuaremos até conseguir um descanso para o nosso povo", concluiu.