Segundo o presidente da comissão, os riscos de abuso sexual era "duas vezes maior" para os jovens que viviam em internatos (O presidente da comissão de pesquisa sobre os abusos sexuais da Igreja católica holandesa)
Da Redação
Publicado em 16 de dezembro de 2011 às 12h34.
Haia - Milhares de menores sofreram abusos sexuais dentro da igreja católica na Holanda, entre 1945 e 2010, e 800 supostos autores desses crimes foram identificados, segundo uma comissão de investigação independente que publicou estes números de uma amplitude inédita.
Em resposta à publicação do relatório, os bispos holandeses afirmaram que lamentam e pedem desculpas sinceras às vítimas de abusos sexuais cometidos por membros do clero.
"Lamentamos os abusos", indicaram os bispos em um comunicado. "Compadecemo-nos das vítimas e apresentamos a elas nossas sinceras desculpas", acrescentaram.
O ex-ministro da Educação Wim Deetman explicou, durante a publicação do relatório da comissão, que "no total, é um número absolutamente enorme", embora tenha admitido tratar-se de uma aproximação. "O número exato não pode ser calculado", ressaltou.
"A Igreja católica holandesa sabia o que acontecia e tentou abafar o problema, mas isso não funcionou", afirmou Deetman, em coletiva de imprensa em Haia. Ele precisou que os abusos sexuais iam "de leves contatos físicos até a penetração completa".
Baseado nos arquivos de instituições católicas, ele assegura que o problema dos abusos sexuais era "pauta das reuniões episcopais" desde os anos 40.
Após várias revelações na imprensa de casos de abusos sexuais presumidos, a Conferência Episcopal holandesa e a Conferência das Instituições Religiosas Holandesas anunciaram no dia 9 de março de 2010 o desejo de uma investigação "longa, externa e independente".
Composta por seis pessoas, entre elas professores universitários, um ex-juiz e uma psicóloga, a comissão iniciou sua investigação no dia 24 de agosto de 2010 sobre os abusos cometidos por membros da Igreja católica contra crianças durante o período "de 1945 até hoje".
As estimativas relativas ao número de vítimas foram efetuadas graças a uma investigação realizada com mais de 34.000 holandeses de 40 anos ou mais, representantes da sociedade.
Com base em 1.800 relatórios, cerca de 800 supostos autores dos abusos sexuais, principalmente padres e religiosos, mas também laicos, foram identificados. Pelo menos 105 ainda estão vivos, informou a comissão.
"Existem mais de 800 com certeza, mas não conseguimos rastrear os outros", disse o ex-ministro, ressaltando que possíveis processos judiciais, muitos já prescritos, "são de responsabilidade do Ministério Público".
A comissão explica a passividade das autoridades religiosas pelo "tabu" que representava a sexualidade na sociedade até os anos 1960 e por uma estrutura administrativa e cultural "fechadas" dentro da Igreja Católica.
"E também, as pessoas simplesmente não acreditavam que um religioso poderia fazer esse tipo de coisa", revelou Deetman.
Os riscos de abuso sexual era "duas vezes maior" para os jovens que viviam em internatos, afirmou o presidente da comissão de investigação, que ressaltou que esse problema também existia em internatos não-católicos.
Uma comissão encarregada de aconselhar a igreja católica holandesa sobre a indenização das vítimas determinou no dia 20 de junho que, em função da gravidade do abuso, deveriam chegar pagar até 100.000 euros para cada vítima.
"Não podemos dizer que há uma ligação direta entre o celibato (dos padres) e os abusos sexuais", disse o ex-ministro. No entanto, ele assegurou no relatório que o celibato é um "risco que causou uma necessidade sexual".
A Igreja católica é abalada há vários anos por uma série de escândalos ligados à pedofilia, principalmente na Áustria, Bélgica, Irlanda, Alemanha e Estados Unidos.
Em 2004, por exemplo, uma investigação criminal revelou 4.400 padres pedófilos nos Estados Unidos entre 1950 e 2002 e 11.000 o número de vítimas.