Enquanto ocorre o retorno dos refugiados, Kadafi, que está em destino não conhecido desde a da ocupação de Trípoli, pediu que os homens "lutem contra os rebeldes na capital" (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 24 de agosto de 2011 às 07h59.
Nalut - Milhares de líbios atravessaram nesta quarta-feira a fronteira tunisiana em diferentes passagens em direção a Trípoli, onde esperam presenciar o fim do regime de Muammar Kadafi, após 42 anos no poder e um sangrento conflito que começou há seis meses.
Centenas de veículos em precárias condições carregados de provisões e cidadãos líbios que fugiram da repressão do coronel viajam através do deserto em uma lenta caravana, como comprovou a Agência Efe.
A estrada a partir de Nalut, perto da fronteira com a Tunísia, construída na década de 80, é a via principal de acesso dos refugiados líbios em seu retorno ao país.
Alguns carros de combate de fabricação soviética utilizados pelas tropas de Kadafi surgem abandonados à beira da estrada, pintados com emblemas da Revolução de 17 de Fevereiro, o movimento que está prestes a derrubar Kadafi do poder.
As sobras da batalha agora são testemunhas da passagem de outros automóveis, caminhões e ambulâncias que seguem para Al Zawiya, o principal reduto rebelde durante a guerra na frente oeste do país e a 50 quilômetros de Trípoli.
A caravana segue carregando bandeiras e emblemas da revolução e os motoristas dirigem tocando a buzina insistentemente e gritam para comemorar o fim do regime repressor.
Os líbios aguardam com expectativa a chegada das autoridades provisórias do Conselho Nacional de Transição (CNT), situado atualmente em Benghazi, a segunda cidade em importância do país, a partir de onde coordenaram a guerra contra Kadafi.
Alguns dos cidadãos que participam deste retorno mostram aos jornalistas sua confiança em que o final da guerra esta próximo, com o que acaba também a mobilização militar em que se viram obrigados a participar após a explosão da revolução em fevereiro e o início da repressão por parte do regime.
Enquanto ocorre o retorno dos refugiados, Kadafi, que está em destino não conhecido desde a da ocupação de Trípoli pelos rebeldes, pediu nesta quarta-feira a "os homens, mulheres, jovens e velhos que lutem contra os rebeldes na capital, aos quais mais uma vez classificou de "ratos e traidores pagos pelos colonizadores".
Em declarações ao canal internacional de televisão sírio Al Ra", o dirigente líbio garantiu que "a missão dos habitantes de Trípoli é purgar sua cidade" de insurgentes.
A mensagem ocorre poucas horas após outras palavras do líder recolhidas pela rede catariana Al Jazeera e divulgadas por um canal de rádio local, nas quais Kadafi ameaçava resistir até a "vitória ou a morte".
Nesta mensagem, Kadafi garantiu que o abandono do simbólico complexo residencial e militar de Bab Al Azizia, em Trípoli, tomado na terça-feira pelos rebeldes, foi um "movimento tático", depois dos bombardeios da Otan sobre este palácio que, segundo explicou, já não tinha importância para ele.
Aparentemente, o complexo presidencial foi destruído por um bombardeio da Otan antes de ser tomado pelos apoiadores do Conselho Nacional de Transição (CNT), que já fizeram tremular em suas ruínas a antiga bandeira tricolor do país.
O otimismo dos rebeldes conflita nesta quarta-feira com as palavras do presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, quem disse que apesar do êxito dos sublevados em Trípoli, o líder líbio mantém certa influência e capacidade militar.
Por enquanto, a situação continua sendo a mesma. De fato há dualidade de poder na Líbia, ressaltou o chefe do Kremlin.
O coordenador do Conselho Nacional de Transição (CNT) líbio no Reino Unido, Guma al Gamati, afirmou que espera que "os poucos" que ainda lutam com Kadafi se rendam e a administração rebelde possa transferir-se para Trípoli durante o fim de semana.