Javier Milei: presidente argentino anunciou megadecreto para desregular economia (Juan Mabromata/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 21 de dezembro de 2023 às 11h54.
Última atualização em 21 de dezembro de 2023 às 19h00.
O presidente argentino, Javier Milei, terá grandes desafios nos próximos meses, conforme busca fazer mudanças profundas na economia argentina e reduzir gastos públicos. No entanto, essas medidas deverão ter forte resistência, o que poderá enfraquecer o poder de Milei em pouco tempo, avalia a consultoria Eurasia.
"O peronismo, especialmente grupos leais a Cristina Kirchner, sindicatos e movimentos sociais vão começar a se mobilizar contra Milei rapidamente. Os governadores também vão resistir aos cortes de gastos agressivos", aponta uma análise da Eurasia.
"Dada a falta de maiorias no Congresso, de um time preparado de tecnocratas e uma estrutura partidária robusta, Milei terá um grande esforço para avançar sua agenda de reformas. Questionamentos na Justiça também são prováveis. Milei poderá, portanto, se tornar um presidente muito fraco em um curto período de tempo" prossegue o estudo.
A análise diz que os efeitos dos cortes de gastos e fim de subsídios devem chegar logo à população, já que devem gerar mais inflação conforme preços que estavam represados forem sendo reajustados.
A Eurasia pondera, no entanto, que Milei tem mostrado um alto grau de pragmatismo, e que a tolerância dos eleitores aos ajustes pode ser maior do que o esperado. Outro ponto é que ele poderá se beneficiar do aumento da produção agrícola e da queda dos gastos com importações de energia, já que as reservas de gás de Vaca Muerta devem aumentar a produção. A expectativa é que os efeitos dessas duas coisas sejam mais sentidas no segundo semestre de 2024.
Na noite de quarta, 20, Milei anunciou um megadecreto com medidas para desregulamentar diversos setores da economia da Argentina. Entre os principais pontos do decreto estão o fim das regras que limitam exportações, privatizações, aumento de preços, além da promessa de mudar a legislação trabalhista no país.
O presidente ultraliberal também revogou a Lei do Aluguel, que determinava contratos de dois anos com reajustes semestrais acordados entre o locatário e locador. As medidas abrem caminho ainda para a privatização da Aerolíneas Argentinas, companhia área estatal, e permitem que times de futebol virem SAF (clube-empresa).
Também na quarta, houve o primeiro grande protesto contra as medidas do novo presidente, que teve adesão menor que a esperada depois que o governo prometeu cortar benefícios sociais de quem bloqueasse as ruas para se manifestar.