Mundo

Milei envia ao Congresso PL que considera torcidas violentas como ‘organizações criminosas’

Iniciativa é anunciada após repressão a protesto de aposentados que contou com o apoio de vários torcedores de clubes portenhos; nova manifestação está prevista para esta quarta-feira

Javier Milei: presidente da Argentina apresentou medidas rígidas contra torcedores violentos no país (Juan Mabromata/AFP)

Javier Milei: presidente da Argentina apresentou medidas rígidas contra torcedores violentos no país (Juan Mabromata/AFP)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 18 de março de 2025 às 13h24.

Tudo sobreArgentina
Saiba mais

Em sua cruzada por responsabilizar torcidas de futebol pela violência desencadeada no protesto de aposentados na semana passada, que contou com o apoio de torcedores de vários clubes portenhos, o governo do presidente argentino, Javier Milei, enviou ao Congresso um projeto de lei para combater grupos de torcedores "violentos" no âmbito do futebol.

Segundo explicou a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que comandou a operação de monitoramento e repressão da marcha de quarta passada, o projeto "tipifica os crimes das 'barras bravas' (os hooligans argentinos) como organizações criminosas”. Nesta quarta, está prevista uma nova marcha, que promete ser ainda maior.

O projeto de lei elaborado pelo governo Milei — que não tem maioria no Congresso — declara as "barras bravas" como um tipo especial de associação ilícita, estabelece a responsabilidade dos dirigentes dos clubes na atuação desses grupos e determina fortes sanções para quem cometer qualquer tipo de violência. A Argentina já conta com uma lei que autoriza o governo a proibir o ingresso a espetáculos esportivos a quem comete atos violentos. Segundo Bullrich, em virtude dessa lei, atualmente cerca de 15.000 pessoas têm vedado o acesso a eventos esportivos.

A ministra disse, ainda, que a nova lei permitirá combater, entre outros, os torcedores violentos que na última quarta-feira participaram, segundo o governo, da marcha dos aposentados. Dias antes da marcha, quando grupos de torcedores anunciaram sua decisão de apoiar a causa dos aposentados, um dos setores mais afetados pelo ajuste econômico implementado pelo governo Milei, a ministra denunciou a participação de barras bravas na iniciativa.

Embora a Justiça, por decisão da juíza Karina Andrade, dos tribunais da cidade de Buenos Aires, tenha ordenado a rápida liberação das cerca de 114 pessoas detidas durante a marcha, a Casa Rosada insiste que vários dos detentos eram barras bravas com antecedentes penais. A juíza, alvo de uma ofensiva do governo, que pediu seu afastamento do caso aos tribunais federais, argumentou que não tinha elementos para manter as pessoas detidas. Andrade afirmou, ainda, que, diante da falta de elementos contundentes contra os detidos, priorizou o direito das pessoas à livre expressão.

'Resistência à autoridade'

Esta semana, o governo determinou que 26 supostos barras bravas sejam proibidos de comparecer a eventos esportivos em todo o país. Para isso, foi aplicada a chamada “Restrição Administrativa de Comparecimento”, publicada no Diário Oficial (o Boletim Oficial argentino). Todos foram acusados pelo Executivo argentino de “ataque e resistência à autoridade”.

Procuradas pelo GLOBO, associações de torcedores de clubes como o Chacarita negam que barras bravas tenham participado do protesto. Já autoridades do clube condenaram, em nota oficial, “os fatos de violência durante a marcha”. A Comissão de Diretores do clube não mencionou barras bravas em seu comunicado, mas pediu que seus torcedores e simpatizantes “mantenham o respeito e a convivência como pilares fundamentais de nossa identidade”. Para evitar problemas com a diretoria do clube, torcedores do Chacarita disseram que na marcha desta quarta evitarão vestir a camiseta do time.

Enquanto a Casa Rosada insiste em responsabilidade barras bravas pela violência que deixou 45 feridos — um deles um fotógrafo, em grave estado —, organizações de aposentados culpam o governo, e especialmente a ministra Bullrich, pela repressão. Nesta terça, algumas dessas organizações convidaram organizações de direitos humanos, sindicatos, movimentos sociais, professores, estudantes, torcedores de futebol, vítimas da repressão e toda a sociedade para uma entrevista coletiva. Em nota divulgada nas redes sociais, o grupo antecipou que vai denunciar “a brutal repressão ordenada pela ministra Patricia Bullrich contra aqueles que lutam por uma vida digna e exigirão justiça para o fotógrafo Pablo Grillo, que permanece em estado crítico no Hospital Ramos Mejía, após receber o impacto de uma bala de gás lacrimogêneo na testa”.

A marcha desta quarta promete ser ainda maior que a da semana passada. Segundo informação publicada pela imprensa local e confirmada por associações de torcedores, além dos aposentadores e torcidas de futebol, participarão movimentos sociais e organizações da sociedade civil que atuam em ações contra a miséria em Buenos Aires. O governo, que semana passada denunciou uma suposta tentativa de golpe de Estado, já avisou que, se for necessário, os manifestantes serão reprimidos.

— Estamos preparados para o que vier — declarou a ministra da Segurança, alvo de quatro denúncias penais pela ação das forças de segurança da semana passada.

Acompanhe tudo sobre:Javier MileiArgentinaFutebol

Mais de Mundo

Casa Branca afirma que Trump e Putin estão conversando há uma hora

Parlamento da Alemanha aprova mudança histórica para aumentar dívida e investir em defesa

Trump afirma que está autorizando seu governo a aumentar a produção de energia a carvão

Acidente de pequeno avião deixa ao menos 12 mortos em Honduras