O presidente da Argentina, Javier Milei, discursa em rede nacional (Argentina's Presidency Press OfficeAFP)
Agência de notícias
Publicado em 12 de abril de 2025 às 12h26.
Última atualização em 12 de abril de 2025 às 12h26.
Acompanhado por seu gabinete, o presidente da Argentina, Javier Milei, fez um pronunciamento em rede nacional para celebrar o novo acordo firmado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê um desembolso de US$ 20 bilhões para recapitalizar o Banco Central e permitir o fim do controle cambial a partir do dia seguinte. O pronunciamento aconteceu às 22h30 de sexta-feira, pouco depois de o órgão oficializar o novo acordo por meio de comunicado.
“Quebramos o último elo da corrente que nos mantinha presos. Eliminamos o controle cambial para sempre”, afirmou Milei em um vídeo de 22 minutos, gravado na Casa Rosada.
“Este programa, entre FMI, Banco Mundial, BID e um repo do Banco Central, totaliza US$ 32 bilhões, dos quais US$ 19,6 bilhões serão liberados de forma imediata. Assim, em maio as reservas brutas do Banco Central estarão em torno de US$ 50 bilhões. Com esse nível de reservas, podemos respaldar todos os pesos em circulação, oferecendo mais segurança monetária aos nossos cidadãos”, declarou o presidente, prometendo o início de uma “era dourada”.
Milei citou o equilíbrio fiscal, cambial e monetário como os três pilares do seu plano de saneamento macroeconômico.
“Damos por encerrado o processo de saneamento macroeconômico”, disse, agradecendo o apoio de blocos legislativos aliados que ajudaram a sustentar os vetos presidenciais a leis que, segundo o governo, ameaçavam a meta de déficit, como a que previa aumento de verbas para as universidades.
“Houve setores que nos apoiaram sem mesquinharia nem condicionamentos. Obrigado aos 87 heróis (deputados) que ajudaram a manter o superávit”, destacou.
Milei mostrou-se mais alinhado do que nunca com os Estados Unidos e com o FMI. “Foi um passo necessário para corrigir décadas de horrores econômicos. Fizemos a lição de casa e somos o aluno exemplar. Somos um dos cinco países no mundo que gasta apenas o que arrecada. Nem um peso a mais”, declarou.
E acrescentou: “Este programa é inédito no respaldo a um plano econômico que já mostra resultados. Agradeço à presidente do FMI, Kristalina Georgieva”.
No mesmo dia em que a inflação se acelerou — com índice de 3,7% em março —, Milei prometeu pôr fim à incerteza inflacionária.
“Vamos restaurar o patrimônio do Banco Central e acabar com a inflação. Pela primeira vez na história, a Argentina tem suas contas em ordem. Não há razão para turbulências internas ou externas. Se algo ocorrer, sofreremos menos e nos recuperaremos mais rápido”, afirmou com confiança.
Ao seu lado estavam a secretária da Presidência, Karina Milei, e o chefe de Gabinete, Guillermo Francos. Ao fundo, visíveis na transmissão, estavam os ministros Luis Caputo (Economia) e Patricia Bullrich (Segurança).
O presidente negou que seja uma desvalorização do peso e projetou uma fase de progresso.
“Essas são as bases para um crescimento sustentado e de longo prazo. Vamos crescer como nunca antes. Haverá aumento no investimento e no consumo, e o risco-país vai cair. O ajuste fiscal garante um piso de crescimento de 4,5%, ao qual se somam as reformas estruturais do DNU 70, da Lei Bases e das desregulamentações do ministério, que já somam mais de 1.700 reformas em curto prazo. Haverá mais investimento estrangeiro direto”, assegurou.
Sem exageros nem explosões de raiva, com um tom uniforme durante toda a fala, o presidente demonstrou confiança de que a macroeconomia está agora forte o suficiente para resistir a qualquer turbulência.
“Seremos o país com maior crescimento nos próximos 30 anos. Não será da noite para o dia. Fizemos a lição de casa para mitigar qualquer volatilidade. A inflação vai colapsar inevitavelmente, apesar dos que tentam frear a mudança”, declarou.
Ele responsabilizou a “lei Guzmán” (em referência ao ex-ministro da Economia de Alberto Fernández) pelos recentes surtos inflacionários e pelo aumento do risco-país.
Milei diz que pôs fim ao controle cambial na Argentina 'para sempre' e que a inflação vai 'despencar'
“A inflação vai desaparecer porque não haverá pesos sem respaldo”, garantiu, prometendo eliminar mais impostos para impulsionar o setor privado, que chamou de “o trem do crescimento”.
Diferenciando-se das gestões anteriores, que culpou pelo controle cambial, Milei disse que seu governo adotou o caminho oposto ao invés de restringir investimentos e ampliar a emissão monetária.
“Por tudo isso, a recuperação que vínhamos observando há meses agora se acelera e se transforma em crescimento sustentado. Nessas condições, a Argentina será o país de maior crescimento econômico e, em vez de falarmos de crescimento em ritmo chinês, será em ritmo argentino”, declarou.
O presidente argentino disse ainda que a economia seguirá crescendo com a recomposição dos estoques das empresas e que “a queda da inflação valorizou o poder de compra dos cidadãos”. “O crédito privado voltou, e já vemos um boom sustentado de crédito imobiliário há mais de um ano”, ressaltou.
Ao final, Milei ainda fez um apelo à união, mencionando todos os partidos políticos. “Se o país crescer, todos nós iremos melhor”, concluiu.